segunda-feira, dezembro 31, 2007

Brindemos ao porteiro,
Enclausurado em sua cabina,
Ouvindo os fogos orgulhosos,
Ruidosos como carabinas

Brindemos à enfermeira
(pelo menos já está vestida de branco)
Espera ansiosa os resultados
Das primeiras violências do ano

Brindemos também ao motorista da ambulância
Brindemos ao motorista do ônibus, do táxi, do avião
Brindemos ao manobrista do puteiro de luxo
Ao barman do Hilton Hotel

Brindemos! Ergamos nossos copos para celebrar a moça do pedágio, a balconista da conveniência, os mendigos do centro antigo, os doentes terminais, os presos brindando com suas cachaças artesanais, o traficante sorteado para fazer plantão na hora dos fogos.

Ah, os fogos!
(sempre tem um coitado que leva chumbo na hora dos fogos)
Quantos aparelhos de TV não estão ligados, enlatando o céu colorido e fedido de pólvora?
Quantos ouvidos não ficarão parcial ou completamente surdos?
Quantas queimaduras? Algum incêndio, quem sabe...
Quantos cachorros e gatos não se escondem embaixo das camas, amedrontados?

Os fogos!
(Brindemos aos bombeiros)

Brindemos, brindemos ao primeiro segundo da meia-noite!
Brindemos o primeiro assassinato do ano, onde será? E o primeiro estupro?
O primeiro contrato fraudulento a ser assinado? O primeiro enfartado a morrer na frente de toda a família, entupido de pernil e cerveja? O primeiro jovem a morrer de overdose? A primeira traição, a primeira agressão, a primeira delação, a primeira broxada?

(Brindemos ao rapaz da farmácia 24 horas)

E o primeiro assalto, será que demora?
Brindemos ao policial que fará a primeira detenção do ano.
Brindemos os brindes mais esquecidos, mais ignorados, mais desprezados, mais repulsivos!

Viva!

Brindemos ao suicida
Que esperou paciente o encontro dos ponteiros
Para chutar a cadeira e começar o ano com classe.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Ladrão do último mês

(Inspirado por “M´águas” de Priscila Lopes e “Sobre peso e leveza” de José Henrique Lopes)

Me consome a luz da palavra que escrevo...
a luz da palavra enternece a mágoa
e a mágoa some
como um desejo,
feito d´água sem sede...

Me alimento do alheio,
do receio da sua falta de inspiração.
ladrão de palavras,
da falta e da aflição,
da coragem da ação

traduzida em palavras.

Meus copos cheios se ressentem de páginas
....................................................(imáginas)
Esvazio, ponho a alma no varal
e os meus olhos cheios se ressentem de lágrimas.

Abandono,
a alma resseca,
o corpo sou,
a sede seca,
a mente ultraja,
eu trago e trajo:

(eu)
LUTO.

Me sinto negro,
pardo, escuro.
Sou a lembrança da alma
esquecida no varal.

Mas paro e escuto
a sombra iluminada da palavra
que eu roubei...

digo a mim e a quem:
- viver é efeito de páginas...

segunda-feira, dezembro 17, 2007

M’água

Escrevo à luz da palavra que me consome:
rendo-me tão-somente às idéias
- dois ou três copos d’água –
nem sinto fome.
Vai dizer que viver
não é feito de mágica?
Mas, agora, racionamento de água:
falta-me inspir-

...........................AÇÃO!

...........................ânimo, páginas.
O solo resseca, o corpo sossega,
e a mente traja
LUTO.

Certa amiga, quando irritada comigo,

sempre me perguntava:

- Porra Caio, por que você não abre logo

uma loja de inconveniências?

Segui seu conselho. Virei poeta.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Déjà vu

............................você vai
.
de novo..............me olhar...............de novo
.
............................de novo

........................................................Viu?

terça-feira, dezembro 11, 2007

Sobre peso e leveza

Às vezes, de tempos em tempos, é preciso tirar a alma do corpo, puxando-a cuidadosamente, com a ponta do polegar e do indicador juntas.

Quando se absorve demais o mundo, a alma é inundada pelo desvario inerente a este. Acaba encharcada, pesada. Quase um fardo, com quilos e quilos de angústias, amores, tristezas e toda sorte de sentimentos humanos.

Então, para não ficar doente, o indivíduo precisa pegar sua alma, esticá-la e prendê-la no varal. E assim ela permanecerá, leve, sendo apenas acariciada por uma brisa descomprometida e preguiçosa. Para que seque e volte a ser como antes.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Essa carta foi escrita pelo Yuri, do blog Herdeiro do Caos, e fala sobre O Pensador Selvagem, projeto muito bacana do qual eu participo (menos do que deveria!) e gostaria que você, caro leitor, sinta-se convidado a participar também. Estive muito envolvido em projetos de cunho pessoal, pagar as contas, essas coisas, e hoje abri minha caixa de e-mail para ler tudo que não li ainda e voltar a ser um ser pensante e minimamente atuante no mundo. Deveria ter postado isso muito tempo atrás, mas vocês sabem, eu sou um mané. O que importa é que, com atraso, esta aqui. O Pensador já esta no ar, em fase de testes, em breve um blog agregado editado por mim, cuja equipe estou montando neste exato momento, ira tratar de literatura em meio aos pensadores selvagens, vai ser legal, pode crer, aguardem... Enquanto isso, fiquem com a carta do nosso camarada, até que o atraso não foi tão ruim, nada melhor do que esse post sair logo depois do post do .hi-fi., revolução cibernética, aí vamos nós!


"Saudações,


Participo do O Pensador Selvagem – OPS! projeto digital colaborativo. A idéia do OPS! consiste em um novo espaço para o debate e publicação de idéias sobre temas diversos, tais como arquitetura, psicologia, literatura, música, games e até matemática, entre uma grande lista de seções/editorias.


O processo de elaboração do OPS! potencializou a estrutura em rede, na horizontal, pensamentos interdisciplinares e coletivos, e continuará nesta estrutura, por acreditarmos no modelo open-source de gestão e produção.


Estou a editar as seções cibercultura e jornalismo. Quero convidá- l@ a integrar este projeto na produção de conteúdo para o OPS!, seja com imagens, textos, vídeos e/ou sugestões de pauta. Como é um projeto colaborativo, ou seja, quem produzirá o conteúdo é o público (eu, você, sua tia, seu vizinho, ou aquele sujeito que sentou ao seu lado no ônibus hoje) a sua participação é fundamental. Desculpe, o clichê “mas sonho que só sonha sozinho é apenas um sonho. E sonho que se sonha junto se torna realidade”. Então, o desafio é justamente este. Realizar um sonho: permitir que novas “vozes” sejam ouvidas, novas idéias sejam publicadas e, conseqüentemente, novos debates ocorram.



Já sei, você achou a proposta interessante, mas por falta de tempo irá me responder que não poderá participar.


Eu sei...você trabalha em dois empregos para “pagar as contas”, além disso tem a faculdade, o mestrado, doutorado, o curso de inglês todo sábado até 2009, a academia de madrugada, o futebol com os amigos todo domingo, o cinema com a namorada na sexta ou então a novela das 8, a terapia nos domingos e feriados...vixe...a lista de atividades é grande, não?


Porém, certamente você escreve um artigo mensal, para uma das infinitas disciplinas da Universidade, comentários diários, semanais, mensais em seu blog, ou aquela matéria que o editor “censurou” por não estar de acordo com a linha editorial do jornal. E por que não compartilha seus textos?


Se você já colabora com outros sites é uma oportunidade a mais para ampliar o debate sobre as questões que você julga pertinentes e precisa lê, dois, três livros para apresentar argumentos louváveis que defendam a sua tese. Ou também você nunca pensou que existisse um espaço interessante para você publicar suas idéias. Aposto que na sua gaveta ou nas inúmeras pastas em “Meus Documentos”, do seu computador, há bons textos clamando para sair do anonimato.


A hora é agora! E a sua nova casa chama-se http://opensadorselvagem.org




Eis abaixo as Seções do OPS! - Se você conhecer alguém que possa se interessar em participar ativamente ou ocasionalmente em alguma ou várias delas, não se furte em convidar. Existem ainda outras seções em vista, para a "fase 2 do site". Vamos dominar o mundo?

Antropologia
Arquitetura
Artes Cênicas
Artes Plásticas
Beleza
Cibercultura
Ciência
Cinema
Comportamento
Cultura Pop
Dança
Ecologia
Economia e Dinheiro
Espiritualidade
Esportes
Este País
Filosofia
Fotografia
Games
Gastronomia
Hispanidad
História
Humor
Internet
Jogos
Jornalismo
Lei e Direito
Literatura
Matemática
Música
Mundo
Política
Psicologia
Publicidade
Quadrinhos
Religião
Saúde e Bem-estar
Sexualidade
Tecnologia e Computação
Viagens e Turismo

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Escritores baratos, uni-vos!

[parte 1]
Como sindicalizado proponho uma assembléia aberta: nos comentários, e/ou em posts. O que acham?
Por sim ou por não vou começar...

[parte 2]
Escrever na era da informação, mania nacional, o romance do papel e caneta se vai, não na mesma velocidade do vinil e a capa de pepelão[?]. Com ou sem romance a escrita, e sua publicação foram democratizadas - e a caneta, papel e lápis nunca irão se acabar.

Co-criação, creative commons, copyleft, tão querendo subverter os tais direitos autorais - subverter não, evoluí-los. Leis são reacionárias por estarem escritas, estáticas, só reescrevendo ou quebrando-as para algum progresso. Vanguardas duram o tempo da próx. surgir, o que hoje é o espaço de uns 8 meses. Explodiu o número de escritores, ou apenas o acesso a eles, os dois. A mudança me atingiu junto com as perguntas, que creio, atingiu outros escritores baratos também:

1) Por quê escrevo?
Pra mudar minha vida e de mais alguém, tudo através das palavras[TP].

2) Meu texto será lido?
Sim, afinal se você escreve é pra ser lido, se não é pra ler, não escreva!

3) Preciso de reconhecimento? Fama?
Um pouco, mas não é necessário. Ser lido é poder melhorar, é trocar saber, medos, admiração, raiva...é saber que mudou a vida de alguém, isso motiva, é combustível.

4) Dica?
Co-escrever e experiências do tipo em grupo. Lucro: descobre novos escritores, transforma leitores em co-autores, rompe a hierarquia escritor¬leitor [artista¬público], aumenta amizade, e tudo mais.

[comentem, trucidem, riam! inicie-se o parlamento!]

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 13 - Colegas de trabalho

Meio tonta de sono e ressaca, abri os olhos. Vasculhei à minha volta com o olhar tentando identificar onde estava. A luz da manhã invadia o quarto por entre uma tira torta da veneziana na janela, iluminando só um filete do ambiente. O suficiente para evidenciar o pó que subia do carpete no chão, uma calça masculina da [nome da loja] jogada de qualquer jeito e a parede oposta. Vencendo o incômodo da lente de contato ressecada consegui ler a sigla rabiscada na tinta desgastada: LHP. "Caralho".
Sabe aquela sensação de que você fez merda? O coração disparou e a adrenalina que jorrou no meu sangue afastou o sono rapidinho. Virei o rosto. Pelado, do meu lado, ele.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Premonição ofensiva gratuita

O filho de 4 anos chega correndo do quintal do consultório do otorrinolaringologista que já atende a família há décadas. Cadarços desamarrados, ele adentra a porta de vidro alegre e saltitante, ruma para o sofá, onde seu pai e sua mãe aguardam lendo revistas velhas de celebridades ou náutica, alternadamente. Com a sinceridade que a infância lhe confere, o garotinho desata a falar:

- A mamãe é linda! A mamãe é bunita! A mamãe é bunita! A mamãe é a mais bunita di todas!

Meio sem graça perante os demais pacientes que aguardavam na mesma sala, a mãe gira a cabeça fazendo um apanhado geral de sorrisos amarelos, como se dissesse "hehehe, me desculpem" e, ao mesmo tempo, vistos de outro ângulo, estes mesmos sorrisos diziam orgulhosos que "é meu menino". O menino continua a vangloriar sua progenitora:

- A mamãe é bunita! A mamãe é muito bunita!

O pai entra na brincadeira e pergunta igualmente sorridente, sem constrangimento, como se conhecesse a natureza de seu filho:

-Tá bom, filho, o que você quer agora? Fala pro papai e pra mamãe!

O menino feha a cara, dá meia volta, e volta a brincar no jardim. Os pais ficam sem graça.

Passarinho

Poema de um amigo que mexeu comigo. Comentem

Passarinho

Ih! Passou um passarinho
Nem vi se o peito era vermelho ou laranja
Aliás, nem sei se era mesmo um passarinho
Às vezes, as folhas se enchem de esperança e voam


Yuri Machado

sábado, dezembro 01, 2007

Ô homem, pobre coitado!

Filho bastardo

Da mãe natureza.

1

Animal auto-enjaulado.

1

Ô homem, pobre coitado!

Nasceu condenado

A ser civilizado.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Borboletas do Espaço em Branco

A Julia Almeida

Jurava que fosse outro dia
e renascia sonho;
in-
...ventava poemas nas tuas palavras,
remendando nós e medos e modos
de sentir.
Mas de vez em quando, ainda,
o teu silêncio:
aproxima-se... não sei tocar.
Enquanto me debruço em teus signos,
tuas mil faces esculpidas em linhas,
eu a espero se manifestar – em mim.

Soam sinos – e tuas aSaS
............sobre
.....................voam
..............................borboletas
(herbívoras, devoram o papel)

A ti exponho meu desdentro, in-
verto lágrimas - é o corpo do poema
que me excita, é a sua liquidez
que me embriaga.

O teu olhar espetou minha escrita
e jorrou tinta vermelha
(bandeira branca do poema,
asteia!),
a ponta que penetra, exterioriza
toda vontade de dor, cega.

Curto com vergonha #00 (Pirassununga 51 e cansaço)

Um verso, impresso eu teu sexo:

Entre tua saia, saia meu universo.

quarta-feira, novembro 28, 2007

um pouco sobre TP

caos é o choque de realidades
realidade contida em cada pessoa
o terror não acontece sem caos
poesia é a tática pra uma vida mais...
coerente
torrerismo poético pra uma vida...
mais coração, e menos engrenagem


[+] http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/12/296700.shtml

terça-feira, novembro 27, 2007

Água Fria (ruim, Sem título #03)

Água Fria

Na carne, o pesado
soco inteiro...
e o corpo se desfaz
minado lentamente...

E o corpo é uma dádiva.
E a vida é uma dúvida.

Os nervos vão lentamente,
com a sabedoria de uma crueldade lenta,
namorando a paz:
A dor é um gozo profundo,
os nervos, não lhes restam dúvidas...

A vida é uma dádiva.
O corpo é uma dúvida.

E tudo o mais, toda a dor um encanto...

A dúvida é uma dádiva.
A dádiva , uma dúvida.

Pela carne
a pele, a câimbra...
a calma é uma ilusão
e não há mais nada.
O riso e o gozo são
dor e o choro.
Não há tato,
Não há toque.

E os olhos fechados
Pela noite escura
Sentem a água fria...

Tomando conta do mundo
Eu existo encantado por poder.

Como uma gentileza do universo em minha direção,
eu sinto o frio e o frio me faz deixar de sentir a ternura,
nada mais existe.

É tudo luminoso.

Na solidão de despir-se
no oceano noturno,
os olhos fechados,
bela noite escura,
sentem a água fria...

Curto sem-vergonha #23 (Uísque J.B. e saudades)

Um verso, no verso da sua saia:
Saia sua saia, entre meu universo.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Teia Tela Ela

Ela quer morrer, pois acredita que encontrará Caravaggio. Passa os dias pensando em telas. Para ela, o trabalho de um pintor equivale ao ofício de uma aranha. Arte de quem sabe usar as mãos costurando modos de viver flutuantes. Por entre as teias que balançam quase soltas no ar, dá pra ver o mundo em volta cortado por linha finas que o fazem mais dançante. Menos precário também fica o mundo quando em tela, pinceladas das fantasias humanas não mais escondidas.

Nem tela nem teia ousam encostar em chão.

Pensa que vai encontrá-lo pintando sobre uma imensa teia de aranha que costumam chamar de céu, então morre em pedaços. Já despiu-se toda e tem cortado fragmentos de pele. Quer perder pedaços pra não correr o risco de romper a teia. Quer perder-se toda deste mundo, aos poucos, da maneira que pode. Nunca ousou pintar. Imagina Caravaggio colorindo a teia em que ela deseja deitar para ser pintada por ele. Pensa que seu modo de viver é tão chão. Amanhã deixará de comer.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 21 - Palestra (des)motivacional

Hoje tivemos que ir para o [outro shopping], participar de uma reunião, não disseram exatamente de quê.
Encontrei a [vendedora xis] no hall do elevador, fomos juntas para o décimo sexto andar.
Era uma palestra motivacional. É foda ser obrigado a ficar ouvindo um babaca falando sobre vestir a camisa da empresa quando se trabalha em uma loja. Essa merda de empresa jamais veste a minha camisa. E cobra pela dela - só tenho 50% de desconto nas roupas que sou obrigada a comprar para usar enquanto trabalho.
O discurso de hoje incluia pérolas como "você tem que investir na sua imagem. Como vai vender uma blusinha fashion pra cliente se você está de regatinha básica? Precisa ter as mais elaboradas também!". É a loja que paga a merda da blusinha?
Outra: não é legal pegar as coisas e sair no minuto exato em que acaba seu horário se você perceber que a loja está com movimento e seus colegas precisando de ajuda. Tem que ter um sentimento de equipe, uma solidariedade.
Quantas vezes a loja teve uma postura solidária quando precisei? Quando fiquei de exame na faculdade não pude sair mais cedo pra estudar. Tive cólica num domingo e saí mais cedo. Contaram como folga.
E hoje, então? Duas horas nessa palestra ridícula sobre métodos de venda e eu ainda tenho que fazer meu horário normal na loja. Duas preciosas horas da minha vida jogadas fora.
Eu só não mando a tiazinha do RH à merda porque sei que esse é só o papel que ela tem que cumprir. O trabalho dela é falar bosta pra gente. O nosso é vender calça skinny pra mulher gorda.
No fim do mês, cada um ganha seu salário, paga suas contas e pronto.

Atropelamento

Chegou mancando, adentrou na sala do Doutor. A cada passo, segurava um gemido, mas era forte e resistente. Sala de espera...

Espera,
espera,
espera,

- Senhor Gonçalves! - chamou a secretária - Pode entrar. O Doutor o aguarda na sala ao lado.

Agradeceu, como faria qualquer pessoa menos educada diante de tamanha simpatia. Levantou-se calmamente e andou coxo em direção à tal sala. Abriu a porta já foi entrando, mancando um pouco mais acentuadamente - como quando se está com vontade de ir ao banheiro e, à medida que se aproxima do urinol, a vontade cresce. Sentou-se. O Doutor palitava os dentes, estava meio sujo, umas manchas pretas na roupa azul, barba por fazer. Até aí, normal.

- Vamos ver, vamos ver, senhor...senhor...

-Gonçalves. Senhor Gonçalves - remendou.

- Era isso que eu queria dizer. Então, Senhor Gonçalves, conte-me o que passa na sua perna.

- Então, doutor. Eu estava caminhando na calçada, mas o trânsito era tanto que as motos cortavam por ela, e aí uma delas me atingiu. Acho que soltaram algumas peças.

- Hummm, nada que um apertozinho não resolva.

Pegou a chave, a graxa, o óleo, e puxou papo com o paciente enquanto atarrachava:

-Correria hoje né, estou fazendo jornada de 20 horas, comprei aquele sistema de injeção eletrônica de alimentação que resolveu meu problema. Agora posso atender muito mais gente. Parece que esse mundo não para de evoluir, né?

- Não sei não, viu, Doutor! Eu tenho um humano em casa que, esses dias, deu maior trabalheira. Estava com uma tal de doença do mundo. O mecânico disse que era um tal de estress.

quarta-feira, novembro 21, 2007

isso que tu olhas,

intrigada,

e pensas ser apenas

um grande gogó,

nada mais é

do que a poesia

entalada na minha

G

A

R

G

A

N

T

A

terça-feira, novembro 20, 2007

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 12
Ainda sem título

Fui até o canto mais escuro do estoque, apoiei a cabeça sobre a mão, fechei os olhos.
"Força!". Tanta loja naquele shopping e a mina dele tinha que querer vir comprar aqui?
Rolou aquele encontro tenso de olhares quando meu ex entrou na loja. Não nos cumprimentamos. O [vendedor] atendeu os dois e eles foram para o outro canto da loja.
Eu estava atendendo um outro cara. Continuei sorrindo, sendo simpática, mostrando roupas.
Por dentro, morrendo de vontade de sair correndo dali.
Não nos víamos há pelo menos mais de um ano, desde que terminamos. Quer dizer, vamos ser sinceros. Ele que terminou comigo, num dos útlimos dias de aula. Na formatura, já estava com outra.
Nunca mais conversamos. Quando a namorada dele entrou no provador, ele veio em minha direção. Não, eu não estava preparada. Ia acabar amolecendo, chorando ou perdendo a compostura no meio do expediente. Ele não merecia. Ainda mais porque era aquela piranha que ia sair com ele dali.
Falei pro meu cliente que ia buscar uma camiseta legal pra combinar e corri pro estoque.
Até que enrolei bastante, mas quando saí, dei de cara ele. Todo sem graça, me pediu pra avisar o [vendedor], que tinha entrado no estoque, para trazer uma calça tamanho 36 pra ela - a 38 ficou sobrando na cintura. Eu sou manequim 40. Não que eu me ache gorda, mas é sempre ruim saber que você foi trocada por alguém mais magra.
A tortura durou mais uns 40 minutos. Ela, que parecia não saber quem eu era (ou tinha sido), ficou pedindo a minha opinião. Fiz o que pude pra ela decidir logo por um modelo (o mais caro) e sair logo dali.

Dois dias depois, o [ex] voltou aqui. Dessa vez, me chamou pelo nome. Pedi uma pausa pra fumar e fui conversar com ele.
"Desde quando você fuma?".
Eu sabia que ele detestava, então fiz questão de acender um cigarro - e até de fumar.
"O que você quer?"
"Foi estranho te reencontrar depois de tanto tempo... Você tá diferente..". Fez aquela carinha de bom-moço do início do namoro.
"Pensei que a gente podia sair um dia desses, comer uma pizza, conversar melhor". Tentou passar a mão no meu cabelo.
Cachorro.
"Qual o nome dela?"
"[nome]. A gente não tá..."
"Ela sabe que você tá aqui?"
"Não, quer dizer, eu tava por aqui e daí resolvi passar na loja.."
Desencostei do murinho, apaguei o cigarro.
"Que foi? Peraí...".
"Se você quer foder com ela como fez comigo, o problema é seu. Só não me envolva nisso".
"[protagonista]"
Com o coração disparado, surpresa pela minha própria frieza, saí andando, as fortes pisadas do salto no mármore do chão me dando orgulho de mim mesma.

quinta-feira, novembro 15, 2007

a quintessência

da indecência

está na mente

de quem sente

se indecente

1

isso todo mundo sente

In-consciente-mente.

1

a quintessência do

indecente

é inocente

e não sente

nem senta

nem suja

nem sabe

nem culpa

nem pede desculpa.

1

a quintessência

da inocência

anestesia.

1

pena que ela esta perdida.

1

já decupei toda minha vida

em busca dela, está perdida!

só compliquei!

decupliquei toda minha culpa.

1

***

1

a quintessência está tão longe!

1

não consegui chegar nem na primeira...

quarta-feira, novembro 14, 2007

De natureza etérea [v1.5]

No perfume das rosas, na presença plantada em um lugar comum, trilhas de saudade. Quanto de vida nossos olhos não conseguem enxergar?

Arbustos de cinzas nos tornam cegos, no tempo que polinizam contradições a cada lufada de vento, em cada instante de vida - maratonas pelo lugar ao sol e nosso falho projeto, só porque nunca alcançaremos a altura da perfeição, sempre lembrados de nossa condição humana. Nosso karma no paraíso, nossa possibilidade: descobrir que podemos enxergar e fazer além do pó, e que podemos encontrar falhas até mesmo na cor - a beleza continua nos olhos de quem vê.

O tédio azul-céu de um blues pode prenunciar tormenta de fogo no dia seguinte: a colheita, o azul-vermelho de um tango acelera o coração. Tons que sublimam comovem os olhos, tomam os pulmões para a imersão do momento - noite escura num palco floresta, e a lua dourada refletindo em seu riso tímido de um segredo quase desvendado. Música.

Mais fácil é distinguir quente do frio, uma mesma palavra tem diversas temperaturas: na ternura de um mimo, lírio, ou aspereza de uma repreensão. O elemento principal de qualquer palavra pronunciada (o anunciante da estação), crava a devida atenção nos interlocutores - resultado de beleza... ou poder. Daninha, palavra enganadora, cresce em quem cultivar, alimentada por uma raíz plantada em dois ou mais corações. O ódio absorve calor do ambiente, da Terra, e acumula-o nos olhos, o ódio ruge na voz, ferve o sangue e cerra olhos, dentes e punhos - pronto, enxergamos em vermelho-sangue, e a grama alheia só importa ao vizinho. De raízes fundas também é qualquer semente germinada em contato casual - e toda raíz arrancada, galho quebrado é dor na terra.

Um buquê de rosas, seu perfume é a presença autenticada, maior que seu tamanho poderia inaugurar. O que os olhos desta vez não conseguem ver, e mesmo assim acabam em memórias, mais acreeditamos nesses laços invisíveis, que insistem em não desatar. Cetim.

[co-escrito com Thaís Ferraz]

terça-feira, novembro 13, 2007

ambígua idade

Ainda que eu escrevesse um poema por dia
ao longo do ano
não escreveria tanto quanto hoje
que me sinto triste
e sem vontade de escrever.

sábado, novembro 10, 2007

Mulheres da vida

Feliz é o homem cuja existência está delimitada por duas mulheres: a mãe, que lhe dá a vida, e a amante, pela qual ele padece e morre.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 5
Não-fumantes que fumam

Odeio fumar. Demais. Não vejo graça nenhuma ficar no meio daquela fumaça, infestando meu cabelo, minhas roupas. Sinto como se estivesse enfiando um escapamento na boca.
Eu não fumava antes da loja. Aí percebi que os fumantes sempre tiram um intervalo de uns quinze minutos no meio do dia pra acender um cigarro. Tentei sair pra "tomar um ar fresco" outro dia e tomei um come. A loja tava cheia, aquela playboyzada olhando, olhando sem comprar. Ar fresco não é vício, não merece intervalo, "se não tem o que fazer, vai baixar estoque".
E os colegas espairecendo à vontade no meio da fumaça. Então foda-se. Decidi que, pra eles, eu fumo. Acabei de entrar nessa loja, esse papo ainda cola; além do que, nunca mencionei nada a respeito antes. A [colega-amiga], que fuma de verdade, costuma sair comigo pra me dar cobertura.
Tenho três maços na bolsa. Um eu comprei, o resto peguei usado dela. Um do câncer, com aquele cara da perna amputada, o da impotência, que tem um cigarro com cinzas caídas sugerindo uma broxada, e o da menina asmática. Esse último me incomoda um pouco, mas é melhor que o dos ratos. Fico dividindo o conteúdo entre eles, levo o mesmo durante uns dias.
De vez em quando, dá merda. Outro dia, encontrei o [gerente] numa dessas escapadas. Eu tava sem a [colega-amiga], tive só tempo de acender um cigarro, dar um trago muito a contragosto e ele chegou.
"Opa. Isqueiro?". Emprestei o meu para ele acender o dele. Ele começou a fumar normalmente e eu fiquei desesperada, sem saber o que fazer. Dei mais dois tragos e deixei cair, fingindo um acidente. "Merda". Ele ofereceu outro. "Não, deixa quieto. Já era o segundo... Melhor ir com calma, to querendo desapegar. Vou dar um pulo no banheiro e depois volto pra loja".
Lavei minha boca, as mãos fedidas de tabaco, o rosto cansado. Olhei-me no espelho e mentalizei: "coragem, nega./ Só faltam R$ 870 pra bater a meta de hoje". Eram 17h40 ainda.

terça-feira, novembro 06, 2007

D-evolução

Refletida

Na vitrine da loja

Enxergo novamente

Minha face cansada

1

Até que sou bonito (!), apesar do desânimo.

Até que sou esperto (!), apesar da preguiça.

Até que sou bacana (!), apesar da arrogância.

1

Por que será que eu tenho de-vir com defeito de fabricação?

sábado, novembro 03, 2007

Múltiplos eus - ou apenas segredos

Pessoas que são mais de uma pessoa, aquela que parece de um jeito num lugar e de outro em outro lugar. Serão máscaras sociais? Múltiplas personalidades?

Pessoa tinha heterônimos - será que Pessoa sofria de transtorno dissociativo de personalidade, e a personalidade que mantinha o controle sobre as outras era o de nome Fernando? Não sei, não quero colocar isso no Google também, gênio é gênio, não se discute [John Forbes Nash Jr., esquizofrênico ganhou Nobel de Economia[1]].

Um pouco de darwinismo social então: o mais forte sobrevive - frase errada, o mais adaptado sobrevive, não a toa a vingança dos nerds está sendo cada dia mais devastadora - indústria da música, cinema, games, e hoje todo cidadão médio depende de computador. Eles criaram um ambiente onde eles fossem mais fortes, e porque criaram isso? Porque são nerds, eles pensaram pra fazer!
A aceitação é maior, e agora os valentões precisam fingir ser nerds também. Máscaras sociais para enfrentar o dia-a-dia de uma escola, de uma família, no trabalho - numa empresa acho dificil descobrir qual a identidade secreta do verdadeiro puxa-saco, será sempre a mesma resposta: eu não sou puxa-saco, mas conheço um!

Tudo bem, eu escrevendo e eu falando são caras totalmente diferentes, ou não? Sim e não, se fosse outra pessoa escrevendo não seria eu, seria outra pessoa, criando outra para escrever - esse negócio de recursão existencial já rendeu muitos textos [2]. Nunca conheceremos outra pessoa totalmente, nem a nós mesmos. Todos temos nossos segredos, uns sabem de alguns, outros sabem de muitos, tem os que não precisam saber nenhum, a sinceridade não está no tamanho do segredo, está no tamanho do sentimento.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Forbes_Nash
[2] http://sindicatodosescritoresbaratos.blogspot.com/2007/07/16-parte-2-vontade-de-ser-deus.html [comentário de Diogo Lyra - tentei localizar link direto, mas não achei]

domingo, outubro 28, 2007

Samba pra uma mulher paulista

Se você quiser
Eu posso não gostar do Rio
E posso não querer o frio
Mas também posso, se você quiser

Se você quiser,
Posso achar um cachecol
Para usar quando faz sol
Também não posso, se não quiser

E você vai ver
Me desmereço por inteiro
E posso, cego, até achar
Uma flor pelo seu cheiro

Vai ver
Desapareço em meu enterro
Para esperar velar-me só
Com uma flor e um grande erro

Se quiser carinho
Posso fazer devagarzinho
Te agarrar pelos cabelos
No escurinho, nu em pêlo

Ou sob a luz do luar
Te fazer berrar meu nome
E sussurrar um “eu te amo”
Enquanto o sono te consome

Mas não me peça
Pra largar meu violão
Que eu morro de promessa
Pois não vivo sem canção

Por favor não peça
Pra largar o violão
Pois que a vida emudeça
Mas não vivo sem canção

quinta-feira, outubro 25, 2007

Às Minhas Tristes Terezas

Havia sido/seria
um pouco triste-
za-re-te.
Assombrava tamanho era o avesso do sonho
(não vivia a real-idade)
Quem olhasse mais de perto ou longe,
notaria: ô mulher bonita!

Em cada braço uma força
impulsionando o tempo

varria a poeira varria
e muito maior se tornava
a sujeira.

quarta-feira, outubro 24, 2007

a miséria do mundo ou

a minha?

qual será Maior?

i

a desgraça do mundo ou

a minha?


a beleza do mundo...

e a minha?


a vida caminha

vida canina!

vida vitalina

vida vítrea!

vida vigarista

a vida caminha

i

e eu...

durmo

cozinho

escrevo

fumo

durmo...

(repita essa estrofe algumas vezes, podendo passar do último “durmo” direto pro “cozinho”)

i

e o mundo expodindo!

a vida vivendo, correndo, rugindo e eu...

dormindo, comendo, escrevendo, fumando, dormindo

enquanto há sono

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicomida

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicabeça

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicigarro

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiestômago

estômago? às vezes é preciso estômago para

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiia dor me ser

i

a vida vivendo e eu dentro de mim,

repetindo (me)

i

a vida vivendo

a vida vidando

a vida vidrando

a vida vigando

e eu aqui

procurando poesia

i

mas poesia é vida e a vida esta lá fora
i

sexta-feira, outubro 19, 2007

[Re(é)] soluções

Sorvido
Expirado
Entorpecido
Entorpecente
Sente? Em torno?
Vida revolvida
Ré, volvida, ré, volvida, ré
Volver
Revolver, revolver
Revólver

Vida resolvida
Sorvida
Só vida
Sol! Vida!

quarta-feira, outubro 17, 2007

Você pensa ão?


Esta imagem foi retirada do blog Pensar Enlouquece (http://www.interney.net/blogs/inagaki/2007/08/10/estadao_contra_os_blogs/) , de um post que fala sobre uma campanha publicitária do Portal do Jornal Estado de São Paulo que visa, vejam só!, minar a credibilidade do univertso blogueiro. Como ,no geral, aqui é um espaço para literatura, mas isso realmente não podia passar em branco, deixo aqui mais dois links para posts sobre a palhaçada. Confira!

Tech Bits
Blog do Gjol

Nesse último, de quebra, confira ótimos artigos sobre a blogosfera.

Blogueiros do Brasil, fogo no pavio!

domingo, outubro 14, 2007

da dor

nasce o poema

i

que é amor

i

do amor nasce a dor

i

da dor

nasce o poema

i

que

adormece a dor

i

a dor mede a dor

i

adormecida

i

cumprida,

lânguida,

sinuosa

i

dorminhoca

i

a dor éiiGRA(N)DE, mesmo dor

ooooooiGRA(N)DEiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimin

iiiiiiiiiiiiiGRA(N)DE iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiido

iiiiiiiiiiiii

i

a dor mexe!

i

Shiiiiiiii! Vai despertar a dor.

i

E eu...

i

Nunca mais

i

iiiivou

Aiiiiiiiime
iiiidor
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiser.

i

a

iiinão ser...

i

Alguém aí conhece um bom

iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimata dor?

quarta-feira, outubro 10, 2007

Imperdoável

Queria te odiar só por um segundo.

Odiar muito, ódio de verdade,

ódio de sangue,

ódio que vem da alma!

Aquele ódio que aquece por dentro do corpo,

que enche de lava as cavidades da face, que seca a boca e embaralha a mente e embaça os olhos e franze a testa e cria milhões de rugas novas por segundo e que dá vontade de esganar, enforcar, espancar, escarrar, chutar, xingar, assassinar...

Mas não consigo!

Queria te odiar só por um mísero segundo,

Só um segundo, unzinho...

Mas não consigo!

Perdôo-te por tudo,

menos por isso.

sexta-feira, outubro 05, 2007

(L)IMITAÇÃO

Ser é tempo presente
que passado nenhum quer (l)imitar
ser assim-assado
já era; estado
do que não é mais:
foi - e que bom!
ou não teria chegado
a ser o que era,
mas passou;
agora é passado,
tempo esgotado: foi, não é.
Conhece o ditado?
Acabei de inventar:
perdeu a frente o carro
que andava de ré.

terça-feira, outubro 02, 2007

Amor X Paixão em uma visão subjetiva

Você está apaixonado, mas não confunda com amor. O amor é confiança plena, acima de qualquer coisa...cheguei a amar, mas não por muito tempo. A paixão é meio com ciúmes, e receios. A paixão não enxerga. A paixão é mais cega que o amor.
Ninguém pode semear a dúvida em você na paixão, e no amor pode, mas você terá argumentos fortes para bater qualquer tentativa. E a paixão pode existir junto com o amor, por exemplo, num casal de namorados grudados. Um amor sem paixão é um casal que respeita a individualidade um do outro um pouco mais. Neste caso, a paixão também existe, nunca deixa de existir, mas não é tão voraz quanto um casal plenamente apaixonado e, portanto, a relação é muito mais sólida.
Você só terá segurança depois de uns bons seis meses. Normal...é paixão. Eu não acho errado dizer “eu te amo”, porque é uma forma de expressar carinho, muito válida. Mas deve-se tomar muito cuidado com a banalização do verbo amar. Depois que banalizar, ficar chamando de amor, falando que ama por qualquer motivo, ele perde as forças e acaba influenciando de maneira pejorativa o relacionamento.
Também toma cuidado para não fazer disso uma escravidão. Não deixe de fazer as coisas por causa dela... ter ciúmes é uma coisa saudável, mas é uma questão de segundos pra se tornar doentio. Uma fragilidade absurda. Uma vez que ela não for com a cara de alguma menina, meu querido, já era. Seja firme e sincero... se não há nada mesmo, não tem o que temer, não é mesmo?
Aliás, essa palavra é absolutamente necessária no vocabulário de um relacionamento:
"DESNECESSÁRIO". Atitudes, olhares, respostas, picuinhas e brincadeiras idiotas (realmente babacas) que muitas vezes podem ser deixadas de lado para evitar um desentendimento e uma fissura na solidez da relação. E, se acaso notar alguma coisa do tipo, não se avexe. Diga: "Para que isso? Isso foi muito desnecessário". A outra pessoa não terá o que falar, além de pedir igualmente sinceras desculpas. E você ainda ganha um beijo por isso.
Apaixone-se sempre. Mas ame sinceramente.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Sobre a boemia - Noites

A Boemia não pertence somente ao poeta falido na mesa do canto, nem ao choro malandro do cavaco.

A boemia possui muitos palcos - entre os copos, na flor no cabelo da morena, nos paralamentos em volta de cada mesa, o samba nos pés. Boemia é também o que está em cena: a curiosidade de se estudar a noite, a sinuca de olhares, a indisciplinada rotina de aparecer sempre na mesma mesa, comungar máximas e mínimas.

Não é um cenário, uma situação que se desfaz no nascer do sol, é uma forma de visão noturna, de como enxergar a noite e a vida. Não é um mundo paralelo, é a mistura de muitos mundos, atraídos por brilhos noturnos e desvendados por corações humanos.

sábado, setembro 29, 2007

Sonetos Estranhos Sobre Poética

q

q

1.

q

que é o poeta?

é aquele que faz poesia, oras!

e poesia, o que é?

poesia, bem... poesia é poesia!

q

é o que eu quiser que seja

pouco me importa a forma,

a norma... isso tudo é prisão do mais puroq

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqCONCRETO

1

que me importa se o soneto não parece

tanto um soneto. que me importa?! eu digo: é

SONETO!]

então é soneto


se tem começo e tem fim, se não tem, enfim...

que me importa? se é boa ou ruim, se eu digo - é poesia

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqtudo posso na minha poética]
não quero mais saber do lirismo que não é

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqlibertação]

q

2.

q

tornei-me pégasus para voar alto, bem alto

tentei. mas fui um pégasus pangaré

senti-me ridículo, incapaz

d

preso a idéias tão próximas, tão rasas

tão ralo de imagens

e há tanta coisa para ser cantada, tanta coisa...

s

e então comecei a caminhar e observar. caminhar e observar,

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqcaminhar e observar]

- as vezes parava para fumar um cigarro -

na busca muitas coisas aprendi e nada me foi revelado

sim, sou jovem! mas temo que nada de realmente relevante um dia

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqvá ser revelado]

q

então abri o livro e, triste, constatei

que isso já foi cantado por outro poeta

o que me faz lembrar de outro que versou sobra a impossibilidade

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq de se ter idéias]

filosóficas sobre as quais algum grego não tenha pensado antes,

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqou algo assim]

q

3.

q

poderia dizer que você pode começar a ler por aqui.

poderia dizer que você pode começar por onde você quiser,

(entretanto já seria uma mentira muito difícil de engolir)

mas os versos que seguem, é verdade, esses realmente não tem

qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqORDEM]

q

Eu faço assim, mas você pode fazer

assado.

Você pode fazer assado.

Você pode fazer!

qq

VOCÊ PODE!

vc pode fazer axim

só você pode

q

só eu posso, só você, só eu, só nós, só podemos, só, só mente

ISSO é POESIA (???)

Você quer poesia? Você quer? É SUA!

q

q

sexta-feira, setembro 28, 2007

Ficar sem resposta

Ansiedade, transmutar segundos em minutos, dias em semanas, meses em anos.
Esperar...esperar...esperar...

Ouvi estudos científicos sobre a diferença da percepção da passagem de tempo em jovens e menos jovens - diferenças gritantes. A ansiedade é biológica.
Espírito jovem, a busca fanática por intensidade em todas as experiências. O que acaba caracterizando paixões em ansiedades.
Se apaixonar não é destrutivo, ou nos deixa idiotas, o efeito principal é que nos torna jovens! Não apenas pelo aspecto da ansiedade, mas porque esquecemos tudo o que aprendemos, até então, sobre estar apaixonado.

O reino da ansiedade não nos toma só nos períodos juvenis. Esperar uma resposta é angustiante: ela disse sim ou não? vão gostar do que fiz ou não? o que tenho que fazer agora? estou no caminho certo?

Ansiedade, se comum, sigamos os caminhos para controlá-lo, ou melhor utilizá-lo. Se poesia, mergulhemos para vislumbrar nesse segundo que parece eternidade aquilo que o comum não percebe.

terça-feira, setembro 25, 2007

Moda em 44

Noite em que a lua apontou seu brilho,
Ascendeu saudade sua.
Rir sozinho,
Lembranças fazendo cócegas.

Sua ternura inundou meu olhar.
Me chamaram avoado,
Mas quem não quer a sensação de flutuar?

Em ti frágil,
Por ti invencível.
Das suas palavras intensidade,
De suas histórias quero uma parte,
E em você, mergulhar.

A saudade insiste
Junto a lua brilhar.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Donos da história

'Quando contarem sobre esse dia, vão falar de mim.' - quase instintivo, muitas vezes é uma boa história mesmo. Fugas da realidade, fugas da normalidade, ser sempre uma surpresa. Nosso esforço em ficar estampado nas memórias do garçon, dos colegas, dos amigos, da amada. Estender nossa existência, vivendo profundamente um único momento.

Viver histórias, testemunhar outras, contar episódios de nossa comédia, causos de amor, aventuras entre lugares, encontros e desencontros, e peripécias da sorte e do azar. Até onde chegar com essa coleção de momentos eternos? E se os momentos apáticos se tornam maiores, não há o que contar?

Compartilhar uma experiência, imergir o outro nelas, mostrar peças das que sua alma é feita. Não há tragédia maior que a própria, nem amor mais nobre, o que faz de cada pessoa um episódio único no universo, que insistimos em narrar aos outros, que aprecíamos ouvir dos que admiramos.

domingo, setembro 23, 2007

Sopro

Ao vento, pelo movimento
Desequilibra-se a livre pena
Despertando-se pela precipitação.
Encosta-me, não me toca
Apenas olhos... Ao vento,
Pelo movimento
Oscila o ápice da videira
Desabrochando vastidão
Precipita-se a profundidade
Encosta-me, não toca.
Olhos, ao vento a toar
A flauta pela marcha real
O sopro desatinado da existência
A peça, a árvore:
Aquece, embriaga
Sondadas, dês-cobertas...
O sussurro é independente e natural
Aproxima-se... Não sei tocar.
Ao sopro escorrega a pena pela videira
Em desmoronamento, a flautear.
Meus olhos, resto é vaso de forma cilíndrica.
Ápice literal, sem sentidos.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Postagem Sobre Ecologia - Blog Action Day Atrasado!

Aí pessoal: preparei uma postagem sobre o tema proposto para o BAD (Blog Action Day), mas meu computador foi tomado por alguma praga que me impede de postar e enviar e-mails. Sendo assim, tive de me deslocar a casa de um camarada para enfim agraciá-los com mais essa tentativa de literatura. Desculpem o atraso!

Gato Preto

"Não me surpreendo com o grito dos maus, mas sim com o silêncio dos bons".
Martin Luther King


Deslizou a faca com um pouco de força sobre a carne ensangüentada. Faca velha, as serras já não eram as mesmas, um pouco de força era necessária. Cortado o pequeno pedaço, espetou o garfo, besuntou no sangue salgado que se empoçava no prato e levou o pedaço a boca, satisfeita. Uma delícia! Aquela refeição tinha um gosto especial, ainda mais agora, era sublime. Era um boi, tudo bem, mas bem que podia ser um gato. Bastava que quisesse. O gato estava lá. Martin. Esse era o nome do gato, maldito gato, fedido, curioso, barulhento, vivia andando pelo telhado dos outros e aqueles vizinhos idiotas sempre chamando, gritando, Martin, Martin... Ah, que delicia de carne! Podia ser carne de gato! Não teria coragem, é verdade, mas gostava muito de imaginar, era ele, sim, Martin, estava comendo Martin, aquele gato insuportável que tantas vezes brigou com outros gatos em cima do telhado! Nunca gostou de gatos, também é verdade, lembrou-se de quando era pequena, pisou em um gato que estava dormindo na rua, o gato acordou assustado e a mordeu, ficou tão brava, mas tão brava, que pegou o gato pelo rabo, girou uma vez e bateu-lhe com a cabeça em um poste de luz. Nunca gostou de gatos. O que dizer daquele então, gato preto! Gato preto dá azar.

E Martin, bem... Martin era um gato educado, muito elegante. Sim, tudo bem, seria faltar a verdade dizer que não era curioso, pois qual gato não é curioso? Também não se pode omitir que era um pouco barulhento por vezes. Principalmente quando estava defendendo seu território de gatos invasores. Miava de um jeito estranho, frenético, alto, esquizofrênico, era um barulho de fato irritante que às vezes chegava a doer os ouvidos. Mas também é fato que isso acontecia raramente. Além disso, como já dito, era muito elegante, nunca fazia seus dejetos na casa dos outros (nem nos telhados). Gato amável, se dava com todas as crianças da vizinhança (exceto aquelas que não gostam de gatos), o que incluía o filho pequeno de Verônica, que adorava Martin. Isso irritava Verônica ainda mais. Pivete maldito! Já tinha dificuldades para gostar de seu filho como deveria gostar uma mãe, fazia o possível para agüentar aquele maldito pivete, atraso de vida (!), de carreira (!), ela, uma menina tão bonita, tão gostosa... Filho da puta! Em todos os sentidos (!), agüentava tudo isso, mas ficar chamando aquela porra daquele gato preto pro quintal, ah não! Aí já era demais.

Sentia-se feliz demais. Dera cabo do problema. Não teria mais que suportar a merda do gato e ainda estava deixando um aviso para os vizinhos imbecis, casalzinho jovem, metidos, com aquela fedelha a tiracolo, vivem escutando aquelas musiquinhas, gente metida a besta! Vivem falando alto, acham que ela nunca ouviu o que dizem dela? Idiotas! Idiotas! Não vão nem poder reclamar, todo mundo sabe que eles vivem com o aluguel atrasado. E além de tudo foi fácil, rápido e limpinho. Cerca de uma hora antes da refeição aqui narrada, Verônica se encontrava na cozinha, lavando a louça, emburrada. De repente, ouviu um barulho, o gato caiu pela sua janela, foi fuçar, curioso, perdeu o equilíbrio, caiu. Caiu! Só pode ser um presente! Pegou um saco de lixo preto, desses bem grandes, e rapidamente ensacou Martin, que demorou alguns segundos para começar sua reação. Nunca nenhum humano fora tão hostil a ele! Não conhecia muitos, era verdade, mas os poucos que vira eram afetuosos ou, no mínimo, respeitosos. Quando começou a se debater, o saco já estava fechado. Verônica então se voltou para a pia aonde encontraria a frigideira que daria cabo da vida do jovem Martin. Já com a arma em punho, golpeou a cabeça do gato repetidas vezes, até que ele parasse de miar e se debater. Gato preto, safado, vai morrer! Batia com um desespero alegre, com um sorriso sádico e amalucado, enquanto batia seu coração batia mais, e mais, e mais e era quase um orgasmo. A lembrança daquele momento era quase um orgasmo. Mastigava a carne e sorvia o sangue, sentindo cada partícula da morte daquele animal sem face que comprara em uma bandeja dias atrás, projetando naquela carne amorfa todo o sabor da morte (da carne) de Martin. Nunca um bife foi tão gostoso! Não era um bife comum, de um ser sem identidade, comprado no setor das carnes, depois de comprar os pães, a margarina e o sabão em pó, não, aquilo sim era carne de verdade! A fantasia a deliciava, comia e se regozijava por completo, até o arroz era embebido no sangue da vitória, da paz, do silêncio. Um dia atrás, o gato estava no telhado, miando alto e estridente! Agora o gato estava a poucas horas de sair de sua casa, em um saco preto, e virar carne moída na parte de trás do caminhão de lixo.

Pegou o telefone, entorpecida, discou o número da outra vizinha.

- Cissa?
- Fala Verônica.
- Faz um favor pra mim?
- Pode falar, querida.
- Você que tem mais intimidade com essa gente, avisa o pessoal da casa 05 que tem gente que não gosta de gato no telhado, e se eles não resolverem isso eu vou falar com a imobiliária.

Bateu o telefone entusiasmada. Comeu o último pedaço do bife o mais demoradamente possível, sentindo todas as nuances do sabor do alimento, todas as texturas, a deliciosa gordura entrelaçada nas fibras do bife, o sangue salgado e gorduroso que a fazia lamber os beiços. Pensou em fritar outro bife, quem sabe até abrir uma cerveja (!), tamanha era a felicidade pelo falecimento do felino. Pegou o prato, que era fundo, levou a boca e sorveu com gosto o resto do sangue empoçado. Estava feliz. Foi quando seu filho, que por sua parte enrolava e ainda ostentava no prato a mistura insossa de arroz com bife, quase igual a que lhe foi entregue no começo do almoço, chamou a atenção de Verônica para a janela do casal vizinho.

- Olha mamãe, gatinho!

Virou-se rapidamente. Uma gata branca, pequena, filhote, linda, ornava a janela da casa dos malditos vizinhos. Outra gata, caramba, outra!

- Gatinho, mamãe, gatinho!
- Cala essa boca moleque, come logo isso aí. Gatinho, gatinho... Era só o que me faltava! Outro! Puta merda... Outra porra de gato! Que merda! Pelo menos esse aí não é preto.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Avó morre após trote sobre seqüestro da neta

O telefone toca e a senhora, já meio lenta, procura os óculos para ver quem chama.
A tela do aparelho exibe: número desconhecido. Ela atende.
Uma voz feminina pede por socorro e outra, masculina, por créditos para celular. "Estamos com sua neta; se não fizer o que mandamos..."
O golpe é típico, conhecido de muita gente. Mas não da Dona Maria Conceição. Ela até tenta se manter atualizada - gosta de conversar com os jovens e saber das "últimas do fronte". Mas nessa idade, não há pique para saber de tudo.
Ela não tem tempo para questionar o bandido. Sua mente logo vê a neta querida sendo maltrada. O coração não agüenta. E a incompreensível dificuldade extrema das autoridades de bloquear celulares em cadeias faz mais uma vítima.

domingo, setembro 16, 2007

Sobre o meio ambiente (como prometido)

Desculpem. Peço que me desculpem. Fiquei ébrio. Mas joguei as bitucas dos cigarros na lata do lixo. E amassei as latas de cerveja. Minha consciência ambiental ficou mais leve por causa disso, embora meu subconsciente saiba que isso não é nada comparado ao que é necessário. Gostaria de fazer mais. Todos gostariam. Todos gostariam de tantas coisas...

sábado, setembro 15, 2007

[16 - vol.2] Pq não falar de amor? - parte 2 [Fábio]

Como impressionar Sueli? Com certeza a mais gata da sala.
Aprender a tocar violão até o final do ano, e no dia de despedida trazê-lo e atacar. OK, aprender em 4 meses: começar com 'More than words' e 'Patience' do Guns, e seguir com Legião.

- Oi Su.
- Oi Fábio.
- Que tipo de música você curte?
- Uns rock. Já ouviu uma que chama Love fool dos Cardigans?
- Já.
- É minha favorita!

Meninas gostam de falar de amor, e no fim amam tudo e nada. Pra quê falar de amor? Amor de verdade só de mãe, que dura pra sempre. Tudo bem, pela Su vale a pena, mas também tem a Amanda, a Paula...

segunda-feira, setembro 03, 2007

Anunciação

Caminhar, tropeçar, e as esporas; esporá-
dicas anunciações:
está para nascer o belo dentre os
imperfeitos lábios de metal.
Digamos que seja um deus, digamos
que seja feio apesar de ser deus:
eu sou impura demais para ficar e assistir
à descida pelos degraus de nuvem;
o peito estufado, olhar penetrante no olhar
de uma criança que, de repente, chora.
E se ele não descer? Se, acaso, ele estiver subindo
com o calor de mil sóis e a força de mamutes africanos,
agilidade tal qual três antílopes saltando? Virá,
então, sabe lá deus quando, para acertar as contas
incalculáveis quando não restar mais nenhum
de nós atados – libertação?

Bernardo Cordeiro Mayer de Azevedo, bienvenido

Os escritores baratos saúdam Bernito e lhe desejam uma boa estadia no planeta.
Que sua vida seja cheia de poesia, como a dos pais, a quem você há de trazer ainda mais alegrias.
E que aprenda cedo a extrair o melhor da vida - seja nos bons momentos ou nos dias ruins.
Votos de felicidade palpável, garoto!
Parabéns à família.
"Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão. Salmos 127:3"

sábado, setembro 01, 2007

Nasceu

O Gozo

era hora, sim, eu sabia
era hora da poesia
mais linda
nascer.

lá estava ela, despida
pequena, esguia,
envergonha,
- comi muito chocolate na semana passada.
- bobagem, vem cá, ta frio...
sorriu. chegou. beijou. deitou.
deitei.

deitei, tantas vezes, deitei, tantas vezes, deitei, tantas vezes, deitei, tantas vezes, deitei, jamais me cansei.

Jamais me cansei
do toque macio,
da boca calada,
o gemido que escapa,
o som engraçado,
o sorriso vexado
mais lindo.

o carinho
mais intimo,
o lábio molhado
sobre o lábio...

o gosto de sentir
o gosto do outro...

e o gosto de se sentir saboreado!

e depois,
entrelaçado,
o antegozo
que é gozo
entrelaçado,
impetuoso,
calculado,
calma, gozo!
é quase hora,
é quase hora,
é quase hora,
já é hora...
- agora!
- foi?
- fui! Foi?
- eu também...
que gozo
maravilhoso...
que sono!
sonhei.

do gozo
gostoso,
libidinoso,
licoroso,
melodioso,
sinuoso,
milagroso,
nasceu.

nasceu a poesia mais linda
que daqui a pouco
- quando?
daqui a pouco.
- quando?
não sei, daqui a pouco!
vai nascer.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Caito, Cíntia, é Cecília.

Eu tenho um corpo marcado por linhas e veias.

Miro as linhas de minhas mãos, sei que estive no ventre de minha mãe. Portanto eu realmente nasci.

Eu aperto as minhas veias e minha pele fica quase branca, sei que por mim escorre um sangue. Portanto eu realmente estou existindo.

Não sei o que fazer de meu corpo. Disseram-me que tenho uma alma e que é por isso que continuo vivendo.

Queria ser só alma, mas sou a cicatriz até meu último instante. Eu sou Cecília.

Sou doente de vida e de morte. Quebro espelhos, bastam meus olhos.

Qualificaram-me, acham que sei existir vivendo. Não sei lidar com meu corpo almado.

Designaram-me Cecília.

Acabei de acordar, será que estou morrendo? Não sei onde pousar minha mais fina pele, meus lábios seguram minha alma. É tanta finura.

Bianca

Seu nome fala por si só
Sua história não tem dó
Tempos frios, violentos
Tempos mancos, lentos, francos
Quando o vento não levou o peso desse documento
Que tatuou em sua pele branca
Uma sina e uma idéia de Bianca

Seu mundo é seu
Seu hino é meu
E ela é fria, violenta
E ela é franca, e venta, é tanta
Senta e se levanta teses tantas
Que não conta a ninguém
Nem sequer quando é amada
Só encanta a tal menina
Essa Bianca

Ninguém tem o cacife pra entender
Ou pra furar esse recife de corais
São tão bonitos seus florais
Que tanto fito

Essa esfinge guarda uma cidade
Inteira em sua mocidade
Ela nem sabe seu tamanho
Ela nem cabe em sua manha

E amanhã o tal clichê: "Decifra-me ou te devoro" sairá pelos seus poros
E entrarei nas profundezas brancas
Onde ouve-se um sussurro
Que canta meu nome
Bianca