quinta-feira, maio 31, 2007

[Tequiniquices] Poesia

03/10/2004 - 0h14
Agora que me é claro o significado da poesia, fica mais fácil encontrá-la. Seja numa crônica, letra de música ou poema. Poesia é o nome que damos às coisas que nos passam significados mais sublimes do que aqueles que realmente aparentam, sendo assim, cada um tem uma visão poética. A minha é simples: dizendo de poemas ou qualquer outro texto, o que vale é a clareza das idéias, sentidos e sentimentos contidos ou evocados neles. Não gosto de pegar um poema e decifrá-lo como um enigma, há formas claras de se provocar com palavras. Nada de poesias plásticas, nada de contos enlatados. Procuro palavras que brilham.

quarta-feira, maio 30, 2007

O outro lado

De aparência triste. Ele era muito pobre. Um tanto frágil, um tanto tímido. Outro tanto tão que nem ele sabia o que era. Ah, mas era. Tudo que ele tinha era uma caixa preta, que ele mesmo batalhara para adquirir, e todos se perguntavam o que havia ali. Todos os dias, à noite, quando a névoa baixava, saía com a tal caixa. Possuía uma alça, ao menos. Os vizinhos burburinhavam as mais diversas histórias sobre o que carregava, mas era um rapaz um tanto reservado. Quando questionado sobre o conteúdo da caixa, respondia com um breve e sonoro "vida". Isso quando conseguiam pará-lo na saída do edifício de dois andares, onde morava, num quarto alugado, nos fundos, lá no fundo, bem no fundo. Saía com a mesma cara de louco, cabelos desgrenhados, barba por fazer, mas sempre com um terno preto. O mesmo terno preto, sempre.
Logo virava à esquerda, entrava em um beco, e sumia na neblina. Só se podia ver o cintilar de uma fivela da parte de trás do suspensório, que sumia como um coração parando de bater. E o beco morria. O breu incessante ardia os olhos do moço, mas mantinha o passo firme, a postura impecável, e continuava a desbravar o infinito. Vez ou outra tropeçava em uma caixa de papelão, ou em alguém dormindo. Ele ia até os fundos, lá no fundo, bem no fundo. Ah! Também algumas vezes um cachorro o acompanhava. E era possível ver sua mão jogando algo para ele.
No mesmo prédio, no apartamento da frente, morava um menino, com sua família. A janela de seu quarto, à direita de quem vê a construção, dava para o beco. A juventude chegou, e ele passou a concorrer com o frio noites a fio no parapeito, sem se cansar de ver o homem, sem descansar de inverno cobre. Inverno cobre era como ele chamava as noites que via e refletia sentado, devido ao letreiro que limitava o ouro lado do beco, piscando luzes alaranjadas, delicadamente gastas. Sempre avistava o último palpitar das presilhas dos suspensórios de um contorno humano. O homem não parava de andar, e o silêncio do beco ficava mais alto à medida em que se afastava.
O moço do terno, ou da caixa, ouvia apenas seus próprios passos, pois o eco ensurdecia qualquer outro vestígio de som. Após cinco minutos caminhando, entrou por uma portinhola de madeira.
Era como uma boate, onde andou até um tablado também de madeira, cumprimentou dois outros homens de terno, que pareciam ser seus amigos, e sentou-se em uma cadeira ainda de madeira.
Abriu a caixa, e tirou uma guitarra vermelha. "Minha vida" - beijou. Ele era um homem rico, e ela, sua vida. E passava horas a fio a degustar as notas que timbravam aquele ambiente. Vivia para aquilo e era feliz. De aparência triste.

segunda-feira, maio 28, 2007

Sobre crescer

Às vezes queremos escrever sobre alguma coisa e ficamos meditando sobre aquilo. Pode levar segundos ou anos. Nesse meio caminho pode acontecer de toparmos com coisas que dizem exatamente o que queríamos dizer, só que de uma maneira muito melhor do que sequer suporíamos poder. Este é um desses casos.

"Quando somos crianças, somos um pouco de cada coisa. Artista, cientista, atleta, erudito... Às vezes parece que crescer é desistir destas coisas, uma a uma. Todos nos arrependemos por coisas das quais desistimos. Algo de que sentimos falta. De que desistimos por sermos muito preguiçosos, ou por não conseguirmos nos sobressair, ou por termos medo."

(Kevin Arnold, Anos Incríveis)

Ao vivo

Eu queria escrever muito. Como se diz que um gato comeu a língua quando isso acontece no papel? Acordei às duas da manhã, insônia das brabas, e tudo que eu mais queria era gritar como... Não precisava nem de caps-lock. Queria dizer pras pessoas que sou, pro mundo que vivo, pra vida que ando. Que ando andando...que tenho andado... De preferência para frente. É, isso é o que importa. E conforme pensava em tudo que queria dizer, esvaíam-se os mais preciosos vocábulos.
Para chegar ao segundo parágrafo, apaguei um livro de frases que se desintegravam na metade. Quando estava prestes a concluí-las,... Então comecei a me acalmar. Um brainstorm seria de grande valia, pelo menos poderia ir me descobrindo, aos poucos.
Mais um livro se foi no “backspace” e no “delete”, mas agora minhas pernas já não estão ansiosas, não ranjo os dentes, e também não tenho...boa noite.

sábado, maio 26, 2007

Crônicas Canábicas #1

Em um terreno baldio na zona sul de São Paulo...
- Aí, Treze, demorô! Vai botá um ou não vai?
- Aí truta, nem me fala... toma aí, vai dischavando. Mó veneno truta, se liga: fomo lá eu e o Klebinho, lá no Buraco, ele foi tocando e eu atrás, só nas coordenada. Chegamo lá, desci da motoca e fui logo entrando, o Binho ficou lá no aguardo. Daí se liga na fita: não vô nem falá, ó. Fala aí você, Binho.
- Isso aí truta, se liga: o treze desceu e já foi logo entrando pra dentro ali da bocada, eu fiquei ali, só de zói, filmando o esquema. Daí que ele começou a demorá e eu já comecei a ficá ligeiro... daí vai vendo: os home colaram! Puta mano! Vi só as luz da barca chegando de longe, vieram devagarinho, apagaram o farol, as cabeçona pra fora da janela... tranquei, truta, te juro! Nossa, veio, cú trancado mesmo, sem idéia, já comecei a pensar que o Treze já ia sair...
- Cade a leda?
- Demorô esse beck, hein truta?
- Passa a seda então, porra!
- Aê, porra, deixa eu termina a fita!
- Vai lá, vai lá: cê tava lá esperando o Treze quando os home colaram...
- Isso mano, aí se liga: olhei pro lado, tava o Treze subindo o beco. Pensei "puta merda, caiu mano, já era!". O treze foi subindo e ...
- Peraí, peraí Binho! Deixa eu conta essa parte aí, pô...
- Vai lá Treze, lança aí...
- Quem tem isqueiro aí?
- Caralho Joca, que pastel da porra!
- Vai se fodê, truta, quero vê vim aqui bolá melhor.
- Bota fogo então, porra! Aí, se liga, fui subindo o beco, de boa, com as paranga tudo no saco, chegei lá em cima, já vi o Binho parado ali na espera com mó cara branca! Subi mais um pouco, já vi a barca. Nossa, truta! Ali nóis achô que ia rodá. Olhei pros home, pensei "foda-se, vou segui minha caminhada e vê no que dá"... quando fui chegando perto da moto os porco já desceram e foram gritando "mão na cabeça, caralho, encosta no muro, vai, vai..."
- Caralho mano! Aí, tomô um sacode?
- Não vai passá essa porra não?
- Desculpa aí - voz presa, tentando conter a fumaça no pulmão - toma aí... cof, cof! Tomô sacode ou não tomô?
- Nada, truta! Aí, na hora que os porco gritaram, já olhei de lado e vi um mano colocando a mão na cabeça. O maluco tava passando lá bem na hora, truta, os cara tava procurando ele!
- Ah, pára, que histórinha...
- To falando, truta! Fala aí pra ele Binho.
- Aí, sem mentira mano.
- Tá bom. Firmeza.
- Não qué acredita, beleza truta! Só que não vô passa esse beck de novo procê não... mó veneno, aí, os maluco não qué nem valoriza as fita...
- Que isso truta, tô falando que eu boto fé, porra! Pára mano, vai ficá na encolha?

100 posts!

Caros amigos, escritores baratos. Eis tudo. Em setembro de 2005, este espaço virtual servia apenas para abrigar as divagações que eu e minha esposa faziamos sobre essa realidade surreal que nos cerca. A coisa foi mudando, outras pessoas entraram, minha esposa saiu, quando o blogue passou a ser um projeto literário, para traçar outros rumos (sob meus protestos, obviamente), enfim, pessoas passaram, alguns saíram, outros ficaram... Já são quase três anos! Não vou ficar aqui babando ovo nem agradecendo por linhas a fio os escritores que aceitaram o convite e construíram essa pequena história virtual. Eles já sabem o quanto sou grato. Quero apenas deixar registrado, antes do inevitável post 101, que estamos 100 posts!

Abraços a todos, em especial aos leitores anônimos que fazem nossa alegria quando entramos no contador do blogue.

Meus sinceros agradecimentos pela baixa audiência e alta paciência!

(Em nome de toda a "equipe" do blogue, embora eu não tenha pedido autorização para falar em nome de nenhum deles!)

quinta-feira, maio 24, 2007

Estou virando fumaça

É frio. É fome. Ascendo um cigarro. Acendo logo em seguida. Já farto daqueles outros dezenove que acendi durante o dia. Mas, na minha atual posição horizontal, a varanda é mais próxima que o fogão. O vento corta as bochechas, e quase não sinto as narinas, que devem estar com uma leve coriza, mas a fome me obriga a extinguir mais um maço diante dos olhos negros da noite, sardenta de estrelas, sedenta de fumaça. Não só do ardor da minha respiração forçada, e dos tragos incessantes. Ela vem também provocada pela brasa que chamusca como um vagalume do inferno, vermelho, pronto para ouriçar mais um agente dos nicóticos anônimos. Abaixo, ouço os berros da vizinha, um prazer que cessa seu frio. As luzes pela cidade já não se mantêm mais vivas. Todas elas já se deitaram.
Penso que este será um último cigarro. Fumo com vontade, quase com o mesmo prazer da vizinha, que insiste em gemer. Estou de meias, mas a tempertura do chão é muito mais influente. Tremo, mas tremo de prazer. É o último do maço.
Penso na vida, e penso também em seu fim, provavelmente desencadeado pelo objeto de meu desejo. O vagalume. Decido então que este será o último também da vida, termino, fumo ainda um pouco do filtro, arremesso com um peteleco e o vejo se arrebentando no chão, depois de treze andares de piruetas. Um espetáculo as fagulhas se desprendendo, como fogos de artifício.
Entro no quarto, tiro as luvas, o casaco, o gorro. Me deito, contente com minha última decisão, modéstia à parte, inteligente e saudável. Acordo, coloco os sapatos marrons, calça, camiseta, malha de inverno, casacão, boina preta, peço um Derby para a empregada, e vou passear com o cachorro. Agora tenho dois maços de Camel no bolso. Terminando esse texto, voltarei à varanda.

quarta-feira, maio 23, 2007

Com passos no Outono

Até onde eu sei, era um outono chuvoso. Podem tentar me convencer de que Ele não possui estação para chegar, mas eu vou retrucar: era outono, e chovia muito. Um dia tristemente úmido. Um mês que me pesava como roupa molhada. Eu tirei uns trocados do bolso e, de repente, meu nome mudou: era Sabrina, Iracema, Pollyanna. E ele aceitou, me deu o troco – também me olhou. Havia um silêncio surpreendentemente belo a nos separar. Havia também palavras de espanto que foram simplesmente pensadas. Olhei para a vidraça do estabelecimento mofado e a chuva caía também sem dizer nada: tap, talap, tap... Batia sobre o toldo que cobria uma pequena parte da calçada. E uma ave gorducha nos espiava imunda. Parecia esperar que algo colorido acontecesse naquele dia cinza. Era uma obra primorosa de Deus, pensei, aquela avezinha encrespada sob as persistentes gotas d’água, como se o mais importante fosse nos observar – ainda que logo em seguida o destino a deixasse morrer gripada. Estávamos os dois – os três, a ave olhava tanto que já estava lá dentro – parados diante dos ponteiros lentos do relógio de mogno pregado à parede. E eu pensei no quão brega era aquele marcador do tempo quando ele, que segurava o troco que eu ainda não havia pegado nas mãos – por medo de suas mãos não me tocarem e eu estranhar – de repente, ele falou uma data: 1941. Era o relógio do seu avó. Talvez, então, não fosse mogno, e eu estivesse enganada como sempre estive durante a vida toda em que permaneci acordada. Livre é quem sonha – ignorante dos perigos de voar quando não se possui asas. Eu, presa ao assoalho empoeirado, me sentia suja por não saber admirá-lo por toda aquela transparência. Sentia as palavras desmoronarem dos meus lábios. Porém, em contato com o ar que ele respirava, congelaram doces: ele, não Ele; ele, não eu. Porque Ele estava subentendido nos gestos, na situação embaraçosa de desejar viver para aquele estabelecimento antigo, talvez tocados por um sentimento antepassado, de casais que se amaram e produziram relógios de parede como aquele: tic, tac, tic, tac... Avisa, tempo, que está passando! Eu me recusava a olhar nos olhos dele, havia me tornado quase um móvel na sua frente. Muito mais do que uma mesa de centro, ele me observava atônito – impassível apenas o sentimento, que se mantinha constantemente altivo, embora eu fosse agora um móvel antigo. O sentimento: Ele. Sem pressa de nada, aperitivava cítrico. Era um passeio cíclico, ritmado – tic, tac, tic, tac, tic, tac – e um sorriso tímido povoou-me a face rompendo tudo. Se houvesse resposta para alguma coisa... e se houvessem perguntas! Fitei seus olhos escuros já sem medo de enxergá-lo dentro – Ele. Lá estava. Sorridente: atento. Como o cão que espera um olhar do dono e abana o rabo – chegou, chegou! Não disse nada. Ninguém diz nada. Ele definitivamente não precisa de cantadas. Impõe-se seco – imponente e calmo. As nuvens se abrem e dão passagem aos primeiros raios de sol. A ave se espreguiça. Parece mais cansada do que nós, e o tempo surrupiando sonhos lentamente, a gente não percebera. A gente! Agora éramos nós. Antes éramos sós. Eu e ele. Nós e Ele. Contentes. E a avezinha cinza, que depois da chuva sentia-se uma coruja e quis partir. Ela, que era um mero pombo. Mas eu não a julgaria naquele instante – nem ele. Eu, que poderia ter qualquer nome, e morar em uma cidade distante; eu, que antes dele era só um anel de prata escurecido, agora me sentindo um diamante. O sol finalmente batia à porta do estabelecimento, e ele se animou para desvirar a plaquinha verde: opened. Então, Ele entrou. Ele, não ele. Ele, não eu. Nós já estávamos lá. Ele por dentro da gente, entrou de repente: o Amor.

sábado, maio 19, 2007

Sub-crônica # 09


___A mesa de madeira macia cheirosa apoiava a luz difusa e pouco carinhosa da manhã, entrando seca pela cozinha de janela sem venezianas. Emoldurada pela parede verde descascada da casinha de tábuas antigas, as migalhas de pão sobre o tom puído da toalha de mesa azul aludiam à uma eternidade que não lhes pertencia. Destacava-se a xícara de louça vulgar despejando o vapor iluminado em direção ao teto escurecido. Em contraste com as sombras, manchando geometricamente a simplicidade da decoração rústica, o silêncio apoiava seu cotovelo sobre a quina da mesa. O olhar, vazio e abnegado, inaugurava a solidão daquele dia.
___Impressionou-lhe a descoberta.
___Entre o que não viria a ser e o que fora, essa sensação de ser inexistindo, tomava-lhe o corpo que também já não pertencia a ninguém. Pensava estranho. Sem linearidade e despido, o pensamento se transformava no próprio corpo estrangeiro e obrigava-lhe a estar ali.
___O rosto de pele ressecada, siltoso, misturou-se à luz que vinha de fora, no momento em que os olhos despertaram. O susto foi a suspensão de tudo o que não fosse indistinto. A cozinha entrou abrupta pelos olhos recém descobertos.
___Corria-lhe com dificuldade o sangue espesso, desenhando-lhe sulcos nas costas da mão suada, num esforço silencioso. Em movimentos repentinos, as pernas cumpriam o rito nervoso de despertar, sem que lhes fosse pedido ou negado. A mão, tremendo miúda, carregava o braço para entregá-lo à coxa: e apertou o joelho com um esforço bonito de concentração!
___Ergueu a cabeça sentindo o atrito das vértebras na nuca. Suas mãos correram das coxas para o vão entre elas e a cadeira, sentiu a madeira como as vértebras e as mãos como o corpo inteiro. O olhar acostumou-se com o corpo, apoderando-se dele lentamente: era o não entendimento sobre o que o construiria de uma maneira diferente em seu último dia. O peso do corpo estava encerrado em sua própria natureza.
___Resistiu em levantar as pálpebras. A luz não incomodava fisicamente os olhos. Era a idéia de luz entrando, a razão do incômodo, a obviedade de seu estranhamento.
___A xícara, como um estrangeiro, anunciava.
___Levou uma das mãos até ela. Um de seus olhos enxergava assombrado pelo recorte da luz, o outro recebia a luz que vinha de fora. A imagem que se formava em seu cérebro errava a realidade e cada parte de dentro de seu corpo também tremia. A mão encontrou a imagem sobre a mesa. Ela estava lá?
___Não bastava a realidade do mundo para descobrir. Inventá-lo exigiria. O recordar de cada experiência, tornado tão inteiro, eternizado em cada imediata resposta a si mesmo, aniquilava todo o raciocínio cotidiano. Despir o instinto de inocência significava dar nomes, tornar-se fora. E então estava lá.
___Cerrando o olho iluminado, ele era novamente aquilo.
___Deu nomes e deu nomes às palavras. Cercando, invadindo-se com o que fora. Pelos olhos de dentro nasceu o silêncio substituído. Tremia também o silêncio, ao ritmo das mãos. O tremor ditava um ritmo e dava sentido aos instantes. Era tarde para não perpetuar o tremor, para não tremer entregue. Eterno e luzidio, o corpo terminava aos poucos e o silêncio caminhava invadindo as lembranças, reminiscências fugidias. Nada mais era ou fora real. O sentido escapava a tudo.
___Agora, poderia ser novamente repetido, mas o vagar entre o corpo e a ausência prevalecia, em frente à xícara de café amornado.
___Levantou-se em desacordo com a vontade do próprio corpo e apoiou a mão pesada sobre a mesa, assumindo uma postura indecisa quanto ao próximo movimento. A cabeça pendia à frente do corpo, e pela fresta das pálpebras, enxergou a xícara recortada pelos cílios desfocados e úmidos. Tentou, num esforço incontido separar o pensamento do corpo - mas o corpo já tornado pensamento era indivisível. Os braços tremiam pesados e impotentes, escuros e sem fôlego.
___Respirar seria mentir a natureza do momento.
___Pensou em quem poderia ter feito o café.
.
.
.
(exercício primeiro de texto em prosa)
Tem um ás balançando
lá embaixo.









- beeem lá embaixo -

e o castelo está condenado.

-Salve-se quem puder!

Ninguém pode. O primeiro andar está em chamas e,

além disso,

ninguém quer.

São todos loucos.

***

Um brinde aos que permanecem.

Os quartos estão queimando, a estrutura está ruindo, o calor é infernal...

Mas jogamos fora os pára-quedas!

Um brinde de vinho e cicuta (não muita)
que é só pra doer (mais um pouco)

ainda não é a hora.

Um brinde aos que permanecem
e sabem

que

ainda não é a hora.

quinta-feira, maio 17, 2007

Tudo passa

Eu queria que o mundo parasse por uns anos. Só pra mim, e só pra sempre. É que eu puxei a cordinha há uns pontos atrás e ele não parou. Os freios estavam gastos. Eu quis descer porque era o lugar para onde queria ir. Agora, quero descer para ir a qualquer lugar.
Espero que encontre alguém que me guie. Só precisarei de uma mãozinha, um colinho, e um cafuné. Depois acharei que este ponto é aquele que eu queria ter descido há alguns pontos atrás.

[16 - parte 1] Os velhos têm ideologias?

Adultos sonham? Os velhos têm ideologias? Talvez só qdo eu chegar lá eu entenda.
Quanto de potencial nos separa deles? Temos a amizade como força, ideologias e sonhos anti-apatia, e o rock'n'roll como fundo de tudo isso.
Consciência e rebeldia, será que eles têm? O contraste de gerações, a divergência sobre o futuro. Querer reagir ao status quo, a essa ganância exarcebadamente assustadora, e a tudo que fode com o mundo. A experiência dos velhos supera tudo isso? Não vejo seus sonhos, não vejo a inércia viva da amizade. Vejo nossas possibilidades, talvez tenham sacrificado as deles por nossas. Mas a cobrança pode nos pressionar contra uma parede de espinhos e pode frustrá-los.
Não somos o futuro do país, somos o presente. Quero meu quarto e rock'n'roll nas ruas!

terça-feira, maio 15, 2007

Desastre

- Sou tão, mas tão desastrado
que derrubei essas palavras (sem métrica!)
nessa folha amassada.
Perdão, foi sem querer, eu juro!
Não foi por nada.
Prometo que vou me calar.

Oh, mil perdões, derrubei também
alguns impropérios,
mas já vou recolher!
Juro que esse "filho da puta!"
não é pra você.
Vou catar essa "merda" que deixei cair,
Deixarei tudo limpo,
já vou me omitir!
(Como convém)
Desculpa mesmo,
juro que não quis
incomodar ninguém.

- Mas já incomodou, moleque pentelho!
Pensas que é poeta? Te olha no espelho!
És só um fedelho, que menino feio!

- Desculpa, perdão,
me poupe o sermão
prometo que vou
recolher o refrão!

- Recolha então!

- Não recolho não!

- Recolha senão
não te dou um tostão!

- Recolho então,
e peço perdão,
Ponho-me no chão,
não me deixe mão!


- Te dou um vintém:
Largue a poesia!
Cansei de te ver
nessa vida vadia.
O bolso furado
dinheiro não tem
se quer ser poeta,
que seja, amém!
Mas já não espere
por nenhum trocado
Seguirá vazio
teu bolso furado.

- Desculpa então,
me poupa o sermão,
prometo que vou
recolher o refrão.

- Recolha então!

- Não recolho não!

- Recolha senão
não te dou um tostão.

- Recolho então,
e peço perdão,
Ponho-me no chão,
não me deixe mão!

- Pois pára com isso,
moleque atrevido
se continuar
te dou um castigo!

- Ah, castigo não!
Versei sem querer,
caíram os versos,
não pude conter.
Tentei segurar
mas eram tão lisos!
Jogavam-se loucos
Mirando o piso.
Portanto: foi mal!
Versei sem querer!
Juro, algo igual
não vou mais fazer!

- Não faça, senão
não vou esquecer.

- Desculpa, perdão,
me poupe o sermão
prometo que vou
recolher o refrão!

- Recolha então!

- Não recolho não!

- Recolha senão
não te dou um tostão.

- Não recolho não,
nem peço perdão,
Não quero tostão,
Me basta a canção.

segunda-feira, maio 14, 2007

Tudo azul

Cinza. O inverno é cinza. Mas tão belo o inverno se faz ao ser acinzentado. E acinzentado já virou até qualidade de gente mau humorada, fria, cinza. Não sei porque. Gostaria de ser chamado Cinza. Uma paisagem não precisa ser necessariamente cinza para que a vejam cinza. Isso depende das cores de cada um. Ontem, para mim, uma árvore florida bem verde, acompanhada de um céu azul sem uma nuvem sequer me pareceu tão cinza. Emocionante. Acho que cinza é uma temperatura, e não uma cor. Um estado de espírito, onde as coisas materiais são simplesmente belas, e não importantes. Onde tudo e todos estão apenas bem consigo mesmo, e, portanto, chuvas torrentes e sóis primaveris são apenas para serem admirados. Toda e qualquer forma do seu campo de visão é uma exuberância a mais para se apreciar, apenas. O ser assume uma neutralidade sem par. E acha beleza até mesmo na mais acinzentada das pessoas. Para mim, isso é ser cinza. O azul deveria ser cinza.

sexta-feira, maio 11, 2007

Ando me cansando

As pessoas falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam e falam.

E é tudo a mesma merda.

quarta-feira, maio 09, 2007

Por que o céu é azul

O dia a dia não é muito colorido. Tem dias tropicália, é verdade, mas a maioria é meio acinzentada, tipo aqueles retratos da época dos nossos avós, em preto e branco pintados com aquarela. Mas o todo, o conjunto dos dias e as perspectivas dos dias que estão por vir, isso sim é colorido. Nada berrante. Cores suficientes, contrastes fortes e combinações garantidas.
Cariciar seu queixo de barba crescente, beijar seu antebraço, abraçá-lo no sofá. Chorar nos seus braços quando a vida me bater, resguardá-lo nos meus quando for sua vez de apanhar do mundo.
Conversar sobre o que vier à cabeça por horas, madrugada adentro, na sala de casa, de moletom cinza e meias brancas, comendo qualquer coisa quente no inverno, cercados de almofadas e com uma pilha de DVDs à disposição.
Construir a carreira e o caráter com o apoio de quem se importa com nosso destino.
Essas coisas colorem minha planilha de sonhos para o futuro. E sei que são só pinceladas de uma obra que terá muito mais que isso. Eu te amo.

terça-feira, maio 08, 2007

O mundo é meu.

Chega do discurso retilíneo e infinito, que prossegue prossegue prossegue sem levar a lugar algum. Chega da caixa acolchoada e quentinha, que aparta o ser de um inóspito mundo das intensidades. Chega da luminária verde, da parede pintada com cores leves e aprazíveis, dos tacos bem lustrados, da "meia dúzia de pães franceses, e bem corados, por favor". Chega das aulas de tênis aos finais de semana. Chega dos leads, das aspas, das fontes, da ética, da moral e da putaqueopariu. Chega dessa organização opressora, que nos obriga a colocar o A na frente do W. Chega desses sentidos e conceitos pré-concebidos, que nos condena à lógica de nascer-trabalhar-procriar-morrer. Chega do lençol trocado a cada dois dias. Chega dos almoços de domingo em que não há diálogo, mas solilóquios em que cada um quer apenas se masturbar e mostrar aos outros um prazer próprio e vil. Chega dos pés no chão, das ambições, dos horários para acordar, almoçar, bater o cartão e escovar os dentes. Dos planos de previdência. Das preocupações futuras. Chega dos mesmos caminhos sempre, dos mapinhas mentais concretizados que não nos dão coragem para correr em locais sem chão. Chega do samba quadrado, da poesia por poesia, do texto pelo texto. Chega do vestibular, provão, avaliação, processo seletivo ou dê o nome que você quiser a essas bostas que não fazem outra coisa senão legitimar a lei do mais forte, do que tem mais, do que pôde mais a vida toda. Chega de ler os clássicos para vomitar tudo em mesas de bar e regozijar-se com a sensação de estar acima da média, de ser além do que os pobres homens e mulheres podem ser. Chega de cerimônias, protocolos, hábitos, costumes, respeitos e tradições. Chega de superfície. Chega de não estar nem acima-nem abaixo dela. Chega de suco de laranja com mamão. De abacaxi com hortelã. De café descafeinado e com adoçante. De cerveja sem álcool. De cigarro light. Chega de paliativos. Chega, chega, chega!

A essência é a busca incessante.
O mundo é meu.

E a partir de agora eu não quero mais dividi-lo com ninguém. Ou só com quem quiser [na essência].

Balada da Civilização

Primeiro o homem gritou
E depois, balbuciou
Qualquer ruído disforme
Gemeu porque tinha fome
Falou porque tinha medo
Falou porque trabalhava
Falando fez inimigos
Gritando ele guerreava

O homem venceu a guerra
A guerra o homem perdeu
Então dividiu-se a terra
A guerra estabeleceu
Quem manda, e quem desmanda
Quem fode e quem é fodido
O homem fez inimigo
O homem, e a propaganda

Nasceu, para discernimos
Quem é inimigo ou não
Mas que coisa tão nefanda!
Nasceu a dominação
A arte era propaganda
Que era religião,
Deus atendeu a demanda
Melhorou a repressão

Viva a primeira nação!
Que domou seu inimigo
O escravo é pra colher trigo
O trigo é pra fazer pão
O pão, pra matar a fome
Do rei, que é representante
Do deus imundo e disforme
Criado pelo reinante!

Amigos, que coisa bela
A tal civilização
É uma grande esparrela
Que prende com perfeição!

segunda-feira, maio 07, 2007

Espinhosemia

As flores têm espinhos. Fácil. Nem tudo é perfeito. Nem tudo são flores. E até o que é flor pode assumir cuniformas e espetar, incomodar, ou persistir, como bem quiser o bom entendedor.
Uma delicada mudança de estrutura, porém, pode fazer valer um novo sentido para muitas explicações. Procurar achar uma qualidade no meio de determinadas situações é nem sempre uma tarefa fácil, mas se faz necessário à medida que o ser humano procura motivos - às vezes os mais fúteis - para explicar-se; e à medida também que se há feitura de forças epopéicas para acreditar na mais frágil argumentação.
É preciso ter motivos para viver, infelizmente. É preciso que esses motivos causem prazer, por menor que seja, por mais que façam o indivíduo durar apenas alguns instantes a mais. Contudo, por mais breve que seja a explanação, por mais cabeluda que seja a autoconvicção - não que me faltem bons argumentos para que não o seja - cada um desses amortecedores de mente são como uma flor. É uma esperança que manda no subconsciente e o faz acreditar que a sarjeta da vida têm uma saída. É uma esperança. Sujeito esperançoso esse ser humano.
Como já disse, uma delicada mudança de estrutura, sim, pode fazer valer um novo sentido à muitas explicações. Às vezes, são os espinhos que têm as flores.

Uma flor de cacto. É exatamente a imagem contrária daquele ditado "Até as flores tem espinhos". É comum dizer que sempre existe algo de ruim, um porém. Fascinado com a imagem de uma flor de cacto, percebi que o contrário não só é real como é também natural, em uma interpretação inversa do ditado popular.
Engraçado o ditado ser tão popular e o inverso tão desconhecido. Quando se está na fossa, por que não se suicida? A resposta é que todo o ser humano é dotado de esperança ou de uma crença - por menor que seja - de que as coisas vão melhorar. Essa crença funciona como a flor. E tudo isso é apenas uma tentativa minha de entender, por exemplo, a felicidade na pobreza e na miséria, de entender porque a gente persiste em coisas que temos praticamente certeza que não vão dar certo, ou até mesmo o porque de eu usar a palavra “praticamente” enquanto tento explicar isso. A certeza nunca é absoluta.
Somos ilhas de esperança em meio à desolação. E não o inverso. E vem a metáfora: não são as flores que também tem espinhos, são os espinhos que têm as flores. E isso não é apenas isso. É muito maior. Porque existe a imagem da flor de cacto, mas existe também a do cacto na praia, cercado de água. Uma coisa englobando a outra, e fazendo a teoria se inverter a cada olhar mais abrangente tomado pelo observador.

quinta-feira, maio 03, 2007

Um show de rock

Onde está o rock'n'roll? O rock não está nos shows em estádios, nem nos barzinhos de rock. O rock'n'roll está nos acordes, na atitude de levantar alguém que caiu do mosh, e na de pedir um cuzão pra sair do bate-cabeça. O rock'n'roll é universal e quer atingir o maior número possível de mentes, por isso não pode ser comercializado. Um grito por liberdade, pela juventude, por mudanças.

Tocar mais alto que a igreja ao lado. Fazer saber que no seu bairro não tem só pagode no final de semana. As garagens ainda ecoam, sem rigor de técnicas, tirar o som é o que vale, gritos e suor. Essa intensidade é que muitas vezes falta nos shows. É esse Rock'n'Roll que não se assiste mais.

Martinico # 01

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Tenho na minha memória branca,
o cheiro do teu sangue no lençol,
o corpo ganhando companhia:
o desejo,
um espelho tornassol...

Entre a carne e a pele eu existia.
Qual de minhas almas era minha,
vendo no espelho
os olhos que tinha?

(era tanta vida
fria desfazendo
quem da vida
desfazia)

Luz do dia,
Eu me sento, eu me sirvo, eu me cego.
Eu te enxergo
nas cortinas que você não escolheu.
(o gosto de vivo no café do meu ego,
mesmo que eu queira, nunca foi meu)

A noite ganha um beijo e
A parede espera companhia:
Acurada a vista que via,
A casa na casa vazia...

A noite era o risco no rosto.
e o dia seria,
a casa,
na casa.


("você escreve isso por que não sabe o trabalho que deu pra tirar a mancha do lençol")

quarta-feira, maio 02, 2007

Três segundos e meio

20 andares acima do solo observo as pessoas pequenas andando de um lado para o outro, sinto o vento em meu rosto e pensando qto tempo levaria para terminar aquilo, 4 segundos talvez.... ou mais.... ou menos. levando em consideração que estou mais ou menos a 60 metros, a gravidade é de 10m/s² e algumas continhas rápidas levarei por volta de 3,5 segundos. Em 3,5 segundos veria toda minha vida passar na minha memória, sentiria toda a liberdade que um ser pode sentir e sem a possibilidade de voltar atrás. Teria apenas mais 3,5 segundos, saberia exatamente o tempo que levaria para botar um ponto final. Não é como voce ir num médico e ele te dizer que tem cancer e que teria mais ou menos 6 meses de vida, você sabe que médicos podem errar e você viver mais, ou menos. Ali não, saberia exatamente que teria mais 3,5 segundos, nem mais, nem menos, exatamente 3,5. Pois a física não erra, pelo menos nesses cálculos.
E qual seria a sensação do fim? qual seria minha última visão? meu último pensamento? meu último desejo?
Sentiria um fim brusco...o chão... a mais de 100Km/h, uma parada repentina, o relógio nao andaria mais, a terra pararia de girar, o silêncio seria definitivo. Sentiria uma pancada, a mais forte de toda minha vida, mas a menos dolorida, sentiria por milésimos de segundo todos meus órgãos estourando. Veria tudo escuro, como a capa de trás de um livro que se fecha. Pensaria numa só palavra: Por quê?. Desejaria ...
3,5 segundos me levariam até o ponto final do livro, saberia que não haveria um depois, e se houvesse, não me lembraria do antes. O FIM DE TUDO, em toda sua plenitude. Levaria 3,5 segundos. Mas olho para o relógio e vejo que levei 35 minutos. 35 minutos para pensar em tudo, para imaginar tudo e voltar para trás. Perceber que por mais indigestas que sejam as palavras desse livro ele ainda não chegou ao seu final e sua capa pode não ser negra. Depende somente do seu último capítulo.

by Renato da Silva de Deus [rsdeus@gmail.com]

Tereza

Me olhou
como se eu fosse a sua presa
De sobremesa,
no jantar,
quis me desfrutar
até em cima da mesa
Colou
meu peito no seu decote
Que sorte
a blusa
se abriu. Me usa, abusa
do seu mascote
Sorriu,
trazia um brilhante no dente
Presente
do dentista,
e as lentes
que ganhou do amigo oculista
Artista,
pensa que ainda engana
A cama
desarrumada
Deu folga pra empregada
Que nada,
sumiu por uma semana
Insana,
ligou para se despedir
Na pressa,
trocou
meu nome por Altamir
Baiana,
vive lá no Nordeste
Agreste,
me deixa
a sensação de estar no deserto
Mas perto,
a gueixa,
me faz esquecer a peste,
o medo,
o tempo
Acorda
às duas e acha cedo
Que medo,
levou a escova de dentes
Calhorda!
Jurou que seria pra sempre
mas sempre
arranja uma desculpa
pra culpa
que leva por ser da gente,
do povo
Frita ovo que é uma beleza!
"Tereza,
te amo,
não some da minha vida"
Bandida!
Levou o que eu tinha no peito
Sem jeito,
voltou
trazendo os seus defeitos
Chorou,
contou-me histórias antigas
Amiga.
Amor.
Tristeza da minha ferida!
Alívio
à dor:
Tereza da minha vida.