segunda-feira, agosto 18, 2008

Versos em linhas brancas # 13 (improviso preenchitório)

Leevia,

eu li as linhas brancas nos teus olhos
e dentro delas o teu ódio
por coisa nenhuma
por tua alma e a minha...

Mesmo assim
coisa alguma me fascina
nos teus olhos de cocaína...

O espelho tem outro sentido
coberto de neve e castigo

teu corpo longe, longe...
teu sexo frágil, frágil
teu gozo frígido, frígido...
teu riso forte.

(tudo tão frio escondido
longe do teu interior tímido
e fora nenhuma dor
é corpo frio acumulado:

nenhuma alma te socorre
faz o socorro em porres
em teu sorriso de coringa
e na fronte retesada

transforma tudo
em tuas passadas pesadas...

o tchau sem voz
a voz sem medo
mas alguma coisa me fascina, Lívia
nos teus vítreos olhos
olhos de cocaína...

sexta-feira, agosto 08, 2008

Ódio, Rancor e Outras Mágoas - 4 Cecília

Não importa onde estava, com quem estava ou quando estava, nunca estava bem. Aparentava estar bem, extremamente bem. Mas a verdade é que nunca estava verdadeiramente bem, nunca esteve. Por trás dos olhos mansos como o mar, algo meio "acabei de acordar", da cara pacífica e da fala bem lerda, tinha uma mente que pensava alucinadamente, o tempo inteiro, falava, falava e falava, de certa forma contra a vontade dela. Queria calá-la, queria calar-se, mas ela estava sempre atenta, sempre pensando. Sempre algo a incomodava. Tinha medo das coisas, medo das pessoas, medo de si mesma. Na sua cabeça sempre uma voz apontando as pequenas e as grandes conspirações do mundo. Sentia-se errada. Sempre errada. Se estava entre pessoas, sentia-se estranha, angustiada, sozinha. Achava-se feia e desagradável, embora fosse bela e deveras simpática. Se estava sozinha, também. Não sabia se portar entre pessoas e, sendo ela uma pessoa, não sabia como se portar consigo. Não conseguia. Se sua mente não lhe azucrinava com nada muito filosófico, tinha algum desconforto corporal, seja uma dor, uma pontada, uma coceira, uma etiqueta cutucando, a calcinha desarrumada, meia entrando no tênis, cabelo fazendo cócegas na orelha, uma gastrite, estomatite, azia, prisão de ventre, gases, resfriado, sinusite, rinite alérgica, dores musculares, cefaléia, cólica. Nunca estava tudo bom e isso a angustiava. Sempre algo estava fora do lugar. Ela mesma estava fora do lugar. Não sabia o que fazer com as mãos, não sabia o que fazer com os olhos, não sabia o que fazer com os lábios. Ainda assim tentava. Falava, e os outros nem percebiam que se desesperava, mas tudo bem, tão pouco ela percebia que os outros não percebiam que se desesperava. Vivia em um mundo à parte. Vivia no mundo. À parte.