sábado, junho 28, 2008

O Pecado da Pecuária

o pecado da pecuária não é pequeno:
é pesado e peida metano
polui o mundo através do ânus
convenhamos: são grandes bundas soltando veneno!

o pecado da pecuária é cinzento:
a rés em grande sofrimento
demanda maior desmatamento!

e a pobre mimosa que come minha soja
do que alguns miseráveis é bem mais nutrida
é gorgucha como os gorduchos da bancada ruralista

e todos sabem que latifundiário
tem sempre no fundo do armário
uma espingarda que nunca erra
que é pra enterrar sem-terra.

só espero que artista
não caia na lista

cruz credo!

acabar que nem freira
em terra estrangeira.

sexta-feira, junho 27, 2008

Palavras Tristes

nos poemas que te escrevi
as palavras se entristecem:
sentem estar perdendo o sentido.

quinta-feira, junho 26, 2008

Curto # 19 (poemeto existencialista)

a caneta não funcionou
no momento em que surgiu:
jaz aqui, um poema que inexistiu...

Curto # 3 (Despétalas)

Tatuagem de flor
não faz da pele um jardim:
corpo reto
membro ereto
pra você gostar de mim...

terça-feira, junho 24, 2008

queridos camaradas, tão distantes
nesse poema de inverno frio
que corre apertado através do fio
mando notícias do meu coração vazio

nessa poesia sentimentalóide
mando notícias de tablóide,
desse coração despedaçado.

é que ando tão a flor da pele
que tenho ganas de ódio
contra os sortudos que
encontraram as palavras certas
antes de mim.

é que ando tão desesperado
que nesse mês gelado
está tão ruim o baseado
só me resta ficar embriagado
do conhaque mais barato
da venda do tio.

é que ando tão sozinho,
tão sozinho!
que me perdi até de mim mesmo.
voluntariamente.

queridos camaradas, tão distantes!
não há instante em que eu não pense
em abrir uma cerveja
e colocar alguns copos a mais na mesa
e encher o cinzeiro com nossas cinzas e nossas angústias!

queridos camaradas! ando tão distante
é que sinto a falta de alguém pensante
cansei de ser pedante solitário
cansei de ser o único otário
preciso de alguém com quem concordar.

queridos amigos viajantes!
cansei de suas visitas
tão curtas que deixam
saudades aflitas
quando é que vamos
habitar o
mesmo lugar?

quinta-feira, junho 19, 2008

Hai Kai do Macho Arrependido

As mulheres da minha vida

Peço desculpas

Pela dominação indevida

segunda-feira, junho 16, 2008

Ódio, Rancor e Outras Mágoas - 2 Segunda

Barulho de máquinas, retirada, entrega para fazer, cigarro, café, orçamento, pedido, telefone, "Cadê meu material?", "O disco de retenção não suportou a pressão, vamo ter que trocar", "Prezado cliente, a Telefônica não constatou o pagamento da conta de telefone referente ao mês de...", estudo, hoje tem prova, capitalismo, revolução e contra-revolução, burguesia entreguista, jazz nas caixinhas do computador, telefone, "Poderia me dar o sinal de fax?", Eminem no rádio que toca perto das máquinas, telefone, mensagem no MSN, fome, cansaço, cigarro, cabeça doendo e rodando, telefone, mais cafezinho, cigarro, telefone, mais um cigarro, tosse, "separa o pedido da UVC", "ta faltando um cotovelo", banheiro, leitura de uma coluna pequena no jornal, telefone, cigarro, café, almoço, "Esse mato aqui de quem que é?", café, telefone, "Chamada a cobrar. Para aceita-la...", cigarrinho, computador, orçamento, e-mail, pedido, redige duplicata, redige promissória, "E aí, vai sobrar algum pra pagar o aluguel?", "Hoje não, quem sabe amanhã", estudo, hoje tem prova, transição pseudodemocrática, autocracia institucional, a farsa do mudancismo, "Você não vai fazer aquela entrega não?", carrega caixa, carro, trânsito, fila na recepção da empresa, volta, trânsito, cigarro, cafezinho, telefone, "Se o Sr. não tem condições de pagar o aluguel, então é melhor desocupar o imóvel", "Faz um favor então, querida: me processa", barulho de máquina, estudo, hoje tem prova, elites buscando uma nova fase de acumulação capitalista, submissão ao capital estrangeiro, a verdadeira democracia só é possível pelas mãos do proletariado, cigarro, café, "Dá um pulinho no banco, por favor", carro, trânsito, fila no banco, "Qual era mesmo a senha?", "É o senhor mesmo que assina pela empresa? Posso ver o seu RG?", "Claro que pode... (Vadia!)", outro banco, fila grande, estuda na fila, hoje tem prova, medo e delírio na extrema direita, esperança e delírio na extrema esquerda, Nova República, "A política dos notáveis, dos políticos orgânicos do conservantismo moderado, que se acreditam democráticos e humanístico porque não recorrem a chibata...", será que não?, "(...) não pretendem retroceder ao escravismo...", será que não?, "(...) e se cobrem de um manto de lantejoulas iluministas, seduzindo as massas com as palavras e as minorias com as ações", "Próximo!", "Cheque administrativo nesse nome, por favor", "Pronto, Sr.. Próximo!", volta, carro, trânsito, telefone, cigarro, café, estudo, hoje tem prova, "No conjunto, as elites políticas fizeram o mínimo possível para erradicar a ordem ilegal implantada pela ditadura", vista embaçada, cabeça confusa, volta o parágrafo, volta a página, mais um café, mais um cigarro, volta a página, "Chegou aquele cotovelo", banheiro, telefone, limpa correndo, "Amor, você pode me trazer dois abacates e alguns pepinos?", mensagem no msn, "E aí cara, blz? Estudo p prova?", estudo, porra, hoje tem prova! A democracia blá blá blá, "Acabou meu cigarro, vou lá embaixo comprar mais", caminhada, sol, céu azul... Ah!, um escadão qualquer num buraco qualquer de Diadema recortando uma favela qualquer... Crianças correndo, cachorro revirando o lixo, duas tias fofocando... Metade de um baseado,"Não tinha cigarro lá embaixo, tive de ir até a padaria", um bloco de notas surrado... Sete minutos de descanso pra não acabar fazendo alguma bobagem.

quarta-feira, junho 11, 2008

Ódio, Rancor e Outras Mágoas - 1 Quanto Dó Juliana Dá

PS: Olá pessoal, vou republicar alguns contos, que pretendo publicar algum dia qualquer reunidos sob o nome acima, com algumas pequenas alterações e revisões, que mas é possível que tenha deixado passar algo. Sabe como é. De qualquer maneira, aí vaí o conto. Valeu!

Quanto dó Juliana dá. Quanta pena a pobre balzaca causa. Não é a pele precocemente enrugada, marcada por anos e anos de copos e cinzeiros transbordantes. Não é a barriga meio mole, tornada flácida após a extração do filho tardio. Não é a falta de pigmentação no colo que ela ostenta desavergonhada em ousados decotes que expõem seus fartos seios branquelos. Não é a perna peluda nem a cara lavada de mulher descompromissada com esse tipo de vaidade. Nada disso incomoda, irrita ou causa pena. Na verdade, é linda. Os longos cabelos negros (nº1), os traços delicados, os olhos verdes, os lábios finos e o corpo lânguido lhe conferem uma beleza que não carece de adornos.
Também não é sua pobreza a causa de tanta comiseração. Não é lá muito endinheirada, é verdade, mas o salário de securitária sempre sustentou sem maiores problemas. Não da pra usar Lancôme para hidratar as mãos e a ração da bicharada certamente não pode ser DogChow. Mas comida, cerveja e DVD pirata nunca faltam. Pode até faltar comida e DVD pirata, mas cerveja nunca falta, o que não vem ao caso, também não é o alcoolismo que tanto causa dó.
O problema da moçoila é simples: o coração. Bregamente falando. Juliana, pobre coitada, não sabe amar. É casada, claro, tem filho, irmãos, cachorros, gatos, cuida da mãe velha e doente. Cuida por amor. Atente ao que eu digo: Juliana não é incapaz de sentir amor. Aliás, o sente em larga escala. Mas o problema é que ela não sabe amar. Tem medo. Pavor. Pânico! Juliana, quando ama, odeia. Ofende, chateia, provoca. Quando precisa dividir, desespera-se (Será egoísmo ou medo?). Esconde o que é seu e usufrui do alheio. Desdenha do outro, despreza, insulta, ironiza, sempre se pondo acima. Sempre descendo mais baixo.
Pobre Juliana, assim foi educada. Foi ensinada, com muito carinho e muito amor, a odiar. Posta desde cedo acima do resto da humanidade, sempre foi considerada a menina mais bonita da cidade (a mãe quase morreu de alegria ao ver que, graças a deus!, nasceu branca), cheirosa, limpinha, de classe, sangue azul ("Você não é como essa gentalha que mora aqui nesse fim de mundo, querida! Você é linda! Você é nobre! Você é clara..."). Juliana é tão grande, tão magnífica, tão suprema (!) que se sente traída por si mesma quando se percebe desenvolvendo carinho por algum ser muito inferior. E absolutamente todos os seres são muito inferiores.
Juliana não gosta de pobre, embora também seja um pouco. Não gosta de preto, embora também seja um pouco. Juliana não gosta de nada, nada, nada que seja um pouco diferente dela mesma, modelo de perfeição a ser seguido. E o pior é que a trintona enxuta é um indivíduo bem específico.
Coitadinha. Fosse menos gostosa, talvez acabasse sozinha. Talvez esteja sozinha agora. O marido gordo e bêbado largado no sofá degustando um sandubão de mortadela. O filhote, nariz escorrendo, puxando a cortina e derrubando os bibelôs da estante. A sogra ("Velha maldita, tomara que morra logo dessa porra desse câncer!") gritando asneiras enquanto cozinha uma sopa pro "menininho" e ela lá: complemente sozinha, reciclando mágoas antigas, misturando-as as novas para formar mágoas maiores e mais resistentes. Odiando conviver com aqueles que odeia, detestando amar aqueles que ama.

***

Quanto dó, Juliana. Foste a pessoa mais detestável que eu mais amei em toda minha vida.

domingo, junho 01, 2008

Curto # 71 (versinho para o apaixonado no banco do jardim)

Amor: ilusão dos instintos,
Dos futuros animais extintos,
Pela ilusão do amor...