segunda-feira, setembro 12, 2005

Sede

Eu quase morro de saudades
Quando você sai pra beber água

Qualquer Merda Bem Contada é uma Crônica

A noite já é quase meia e um ônibus, como tantos outros, corre atabalhoado pelos corredores de São Paulo. Desce ligeiro pela Avenida Rebouças, levando muitos e espremidos passageiros para o sudoeste da cidade.
Em um banco bem ao fundo do coletivo, Augusto e Vera conversam animadamente, sem dar bola para a distância que os separa do lar. A menina, uma bela vestibulanda aflita com a prova que se aproxima, proseia com o namorado:

- Ai meu! Queria aprender a fazer uma crônica, é tão difícil...
- Que isso! É a coisa mais fácil do mundo!
- Como assim? Não sei... É foda! Sei escrever qualquer tipo de redação, seja descritiva, narrativa ou até mesmo dissertativa, mas uma crônica! Esses dias o professor do cursinho mandou a gente fazer uma e não fiz nada até agora. Mó foda! Me ensina a fazer uma?
- Não precisa.
- Por que? Como assim?
- Não precisa oras. Não tem o que ensinar. Você sabe fazer, qualquer um sabe. Basta contar algo cotidiano, prosaico, sei lá... Qualquer coisa que você ver na rua serve, qualquer causo, qualquer cena engraçada, enfim, qualquer merda bem contada é uma crônica.
- Ah é? Me dá um exemplo então.
- Hummm... Deixa eu pensar...Isso é uma crônica.
- Isso o que?
- Isso, oras!
- Isso o que, Augusto? Para de brincar comigo e me explica essa droga logo!
- Vera...
- Oi?
- Presta atenção...
- No que?
- Isso é uma crônica.
- O que? Nossa conversa?
- É.
- Tem certeza?
- Claro. Um casal, voltando para casa em um ônibus lotado e discutindo sobre como se faz uma crônica. Perfeito. Sem tirar nem por. Aliás, fosse eu o cronista, terminaria agora.