quarta-feira, fevereiro 22, 2006

À primeira xícara de café

Vou escrever uma canção adolescente,
Mostrar os dentes pra essa nossa geração...
Para dizer que quando nunca é muito pouco,
Para sempre pode estar perto demais...

Vou escrever uma canção bem bossa-nova,
Pra ver se ganho algumas notas nos jornais.
E comprar o meu prazer por pay-per-view:
Por qual miséria a gente já não paga mais?

Disfarçar cartas com essa cara de contente,
Dizer qualquer pouco prazer já satisfaz.
(Mas se nós não morreremos jovens,
Pelo menos não morreremos iguais...)

Desabafar meia dúzia de mentiras,
Pra te ganhar nessa selva de ilusão.
Ler nossas vidas em papéis moeda,
Mercantilizar a nossa relação...

Uma canção feito um filme americano, eu te engano e você sempre pede mais...

Marcos, 19 de abril de 2003

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Quase Nada

Alguns me perguntam
o que faço de verdade para mudar o mundo,
além de ficar reclamando das coisas
e brincando de ser poeta.
O que faço de verdade?
Quase nada.
Apenas poesia.
E as pessoas podem até não gostar mais de poesia...
Podem até não ler mais poesia.
Mas elas não podem afirmar que a poesia é nada!
Pode até ser que não seja muita coisa...
Mas ninguém pode ao menos insinuar
que uma poesia (mesmo a pior de todas)
não é de verdade.

sábado, fevereiro 18, 2006

El mismo

Se houver algum erro, perdoem e corrijam! É a primeira coisa que escrevo em espanhol, portanto...


Se quedan las horas,
y me pasa inadvertido el mundo...
también así cambié mis sueños que no eran mis sueños,

para satisfacer la vida.

Se quedan mis sueños,
y me pasa inadvertida la vida...
cambié así, también, mi mundo que no era mi mundo,

para satisfacer las horas...

y tengo placer en todo que está vivo, y en todo que existe para ser cambiado...
Todo que soñaba era otro que soñaba...

Y la vida fue hecha
Sin que yo, apenas uno, fuera yo aún.

Mi mundo era otro.
Yo era el mismo.

Marcos, fevereiro 2006

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Nós

Antes de postar o poema, é preciso esclarecer duas coisas : primeiro, que esse poema foi escrito em um bar, na ilustre companhia de um grande pensador e camarada chamado Luís Castiglione, autor de grande parte das palavras, rimas e idéias desses versos. Por fim, é preciso esclarecer que somos escritores baratos, não burros. As palavras escritas aqui que não constam no dicionário são propositais. Parece óbvio, mas sempre é bom evitar interpretações maldosas.

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Somos a resistência encarnada
na mais (im)perfeita negação.
Aqueles que ousam olhar
entre as frestas dos próprios dedos
e sentir a clareza e o calor
de algumas poucas ondas de luzes
que penetram os olhos e
por um breve momento
como lentes de aumento
aprimoram o olhar.

Evidentemente a gente sente
tudo aquilo que nos cabe.
A evidência que informa que
na norma do Universo não há normas,
muito menos uma forma
a ser evidenciada.

Não há jogo a ser jogado,
Não há dado a ser rolado,
somos o dado viciado
tentando se desviciar.

O indivíduo estragado
tentando num trago
se desestragar.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Curto

Quando me perco em certos turnos,
cego ao começo do fim de tudo
Espero...
Receio...
Fumo...
e embora tudo um novo começo,
antes pedaços, que esquecimentos...

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Idéias Anacrônicas sobre o Amor

Vol 01- O Beijo

O beijo é um momento sagrado
pulverizado e vulgarizado.

Ficou apenas o ato, o tato, o atrito
objetivo sem sentido.

Dois egos que beijam a si mesmos
com a ajuda da boca alheia.

Paralelas que se cruzam
num ponto perdido e
já previamente esquecido.

Vol 2 – O Sexo

O sexo é um momento sagrado
pulverizado e vulgarizado

Ficou apenas o ato, o tato, o atrito
objetivo sem sentido

Dois egos que masturbam a si mesmos
com a ajuda do sexo alheio

Paralelas que se cruzam
num ponto perdido e
já previamente esquecido.

“Isso é Serra!”

Feriado da Independência. Rua Augusta. Frio.

Na famosa rua das profissionais do sexo, próximo ao Espaço Unibanco, um aglomerado de policiais e civis atrapalha o trânsito e chama a atenção de mais curiosos, que misturam-se à fila do cinema ao lado. Os “gambés” confiscam mercadorias de camelôs, dentre os quais, um vendedor de livros. Este expõe sua indignação exclamando para os transeuntes:
- “Eu vendo livros! Livro é cultura! Por que eles não vão prender os bandidos?”
Uma moça, na sacada de seu apartamento, em frente ao auê, complementa:
- “Por isso o Brasil não vai para frente!”
Todas as atenções voltam-se para ela, que continua discursando sobre a incoerência daquele confisco em detrimento da caçada aos assassinos, seqüestradores e outras categorias semelhantes.- “O cara aí é trabalhador! Ele vende cultura!”

Ela dá um trago em seu cigarro, solta a fumaça, enche o pulmão de oxigênio e conclui apontando para a muvuca:
- “Isso é Serra!”.

“Bebê africano rende”

Essa eu tinha que enviar...Dêem uma olhada nas fotografias se puderem...



Hoje, no sítio do Terra na Internet, sob a imagem do rosto de uma mulher sendo tocada nos lábios pela mão de seu filho, li a seguinte chamada:

“Bebê africano rende melhor foto de 2005”

Seguia uma pequena notícia versando sobre “um dos prêmios mais importantes do fotojornalismo”, o World Press Photo, vencido pelo canadense Finbarr O’Reilly. James Colton, presidente do júri, disse: " Esta imagem tem de tudo: beleza, horror e desesperança. É simples, elegante e comovente".
Pensei sobre a história do fotojornalista sul-africano Kevin Carter, vencedor do Pulitzer do ano de 1994. Carter suicidou-se no mesmo ano, pouco tempo depois de ter fotografado a morte de uma jovem garota sudanesa. Suicidou-se, em linhas gerais, por ter obtido a imagem e nada ter feito para salvar a vida da menina. A fotografia de Carter é realmente impressionante. Crua, cruel. Difícil de esquecer.
Entre a fotografia de Carter, bastante real, e a fotografia de O’Reilly, existe uma diferença nítida: a preocupação de Finbarr O’Reilly com a estética da imagem. O fotógrafo, diante do horror da fome de mãe e filho, preocupou-se em obter um efeito visual esteticamente interessante, aos moldes da “National Geographic”. São premiações diferentes, claro. E desde 1994 até 2005, a repetição das imagens da miséria pelo mundo banalizaram a miséria real a ponto do segundo fotojornalista, diante da miséria real e viva, pensar na fotometragem de sua câmera fotográfica e no enquadramento e efeito estético da miséria impressos no jornal. As imagens ajudam a vender os jornais. Foto-Showrnalismo.
Mas a diferença não está apenas no interior do campo de atuação dos fotojornalistas. Nesses tempos, as imagens ganharam uma importância difícil de mensurar. O real não é mais importante, mas sim sua tradução em imagens, preferencialmente carregadas de enorme quantidade de maquiagem.
Capturar a beleza na miséria exige uma boa dose de amor à arte.


Marcos, 10 de fevereiro de 2006

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Los Hermanos, Nietzsche e o cristianismo

Pessoal, é uma tentativa...acho que necessita de melhor argumentação, mas taí aberto pra colaboração e discussão...


Os fenômenos da música “pop” são interessantes pra desvendar nuances da psicologia coletiva...Pense sobre o “Los Hermanos” e o seu efeito comercial implacável (ou emplacável): parte da juventude brasileira, a parte que guarda em si o sentimento nebuloso da nostalgia (sobre a própria vida vazia), ou até um sentimento sincero de tristeza profunda por não ter nascido em Londres durante os anos oitenta, acumulada à parte da juventude de viúvas do Chico Buarque, somada à necessidade das massas de se agruparem ao redor de um totem, aliado ao talento dos produtores musicais e ao talento dos músicos “Hermanos”, gerou o sucesso da banda. É quase só isso. Simples assim. Mas esse mesmo comportamento acontece há séculos, o que permite interpretá-lo de outra maneira. Os cristãos “inventaram”, ao longo de sua chaga terrestre, um Deus para os fracos, onde todas os pecados e virtudes são imaginários, ou seja, são sublimados para um campo da existência distante da realidade palpável, e onde o sofrimento é uma forma de elogio e elevação do espírito. Os contemporâneos, embora não se assumam necessariamente como homens cristãos, guardam em si a maneira de viver de um religioso cristão fervoroso: um homem empobrecido interiormente, fatigado e apegado à idéia de outra existência ( a realidade sublimada) como salvação: a salvação é o totem que ilumina os caminhos. É nesse sentido que as “profecias” dos músicos e o seu conseqüente “endeusamento” se dão. E a fábrica de sucessos expressos agradece a quantia depositada nas contas das multinacionais. E o coro canta. Enquanto o couro come.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Pessoal, eu não escrevo bem como vocês, mas ess´aqui está mais sincero e claro...


Marrom número 31 (jav)


Eu era o exterior morando dentro de mim.
Cego desejoso da alma feminina que sempre esteve aquém,
tinha eu o céu senil da classe média em minhas mãos,
aperfeiçoado pela estupidez provinciana e vulgar...

Quando corajoso despi, do corpo, o lento movimento
gritei a falta sentida de quem eu sou,
e veio cantar, dentro de mim, o vento, alvissareiro e abrasador,
enquanto ancorado, sentia eu outras dimensões do tempo...

o desejo pela ilusão do todo desfeito cegou,
e seguiu amputando esta parte de mim, meu algoz e capataz, que me era tão inútil.
Foi um fim em si mesmo, um pesadelo sutil de realidade...

Dos pecados e das penas cristãs impostas a mim,
desenhei e construí as asas da minha verdade...

Lúcidos, anunciaram-se os anjos de carnes e gozos,
E no seio dos desejos alheios eu me perdi...
Não tardou, e
o sussurro veio soprado quente:
Não se enfeita o que se revela cru...


Desenterrei meus pulmões queimados, cuidei-os,
e respirando lá fora, vivo, senti o aroma de todos os chãos que pisei,
esquecidos nas asas do anjo mulher ornamentado de entalhes barrocos,
dormindo nua, sem desconfiar do futuro, entregue...

(Vi o sorriso de olhos fechados logo antes do sono profundo),
(Um celeiro de fachadas coloridas nas fotografias, iluminando os meus olhos e os de Cristie).


Marcos, fevereiro de 2006

domingo, fevereiro 05, 2006

Cetim desfiado

(Evito interpretações equivocadas desde já: adoro Bukowski.)

Como poros do Nada
inspirando sexualidade
Partículas de Vazio
Apenas a braços dados em apertados e reles abraços

...como se fossem...

Não.

Conteúdo rasgado
Cetim desfiado

Tua catarse brutal
Maré furiosa sobre conchas rosadas

Entregar-me-ia
...fosse outrora
Antes de tantos tantos
Quando uma doçura inocente ainda era posta de lado
E alimentada era apenas a voracidade do carnal

Tu já contemplas uma poesia...
...que eu ainda vivo

Tu te cansaste de procurar a beleza eterna
E devoras o belo efêmero

Como se fosse Bukowski

Quando quero Vinícius

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Proesia

Se a vida de alguns poetas já era torta desde o nascimento, a minha – logo eu, que nem tenho certeza ainda se sou ou não poeta! – era torta antes: torta desde a concepção.
Minha mãe, a mais bela gaúcha do mundo (embora ela não saiba disso), tem o útero invertido, o que quer dizer, de certa forma, que eu dei a volta. Ela me diz que fui concebido por milagre, de tanta vontade que eu já tinha de viver. Creio que foi diferente: me imagino perdido, fugindo da multidão de espermatozóides, encontrando, perplexo, o óvulo que todos – menos eu – procuravam tão avidamente.
Não bastasse dar a volta no útero, tive que nascer de repente, tão logo o médico constatou que o cordão que me garantia a vida me enforcaria até a morte. Não havia tempo para esperar o parto, então partiram ao meio a barriga da gaúcha e de lá me tiraram. Já nasci enrolado, como gosta de brincar meu pai.
Nasci sem chorar, pois o ar já me faltava, o que levou minha pobre mãe a crer que dera a luz a um natimorto.
Dias atrás, bebendo e conversando com mamãe, fiquei sabendo disso tudo e achei que deveria escrever um poema. E é o que faço agora.
- Mas isso não é poesia! Logo bradarão todos após ler minhas palavras toscas.
Oras, pra quem deu a volta no útero e nasceu se enforcando com o cordão umbilical, qualquer coisa é poesia.