quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Proesia

Se a vida de alguns poetas já era torta desde o nascimento, a minha – logo eu, que nem tenho certeza ainda se sou ou não poeta! – era torta antes: torta desde a concepção.
Minha mãe, a mais bela gaúcha do mundo (embora ela não saiba disso), tem o útero invertido, o que quer dizer, de certa forma, que eu dei a volta. Ela me diz que fui concebido por milagre, de tanta vontade que eu já tinha de viver. Creio que foi diferente: me imagino perdido, fugindo da multidão de espermatozóides, encontrando, perplexo, o óvulo que todos – menos eu – procuravam tão avidamente.
Não bastasse dar a volta no útero, tive que nascer de repente, tão logo o médico constatou que o cordão que me garantia a vida me enforcaria até a morte. Não havia tempo para esperar o parto, então partiram ao meio a barriga da gaúcha e de lá me tiraram. Já nasci enrolado, como gosta de brincar meu pai.
Nasci sem chorar, pois o ar já me faltava, o que levou minha pobre mãe a crer que dera a luz a um natimorto.
Dias atrás, bebendo e conversando com mamãe, fiquei sabendo disso tudo e achei que deveria escrever um poema. E é o que faço agora.
- Mas isso não é poesia! Logo bradarão todos após ler minhas palavras toscas.
Oras, pra quem deu a volta no útero e nasceu se enforcando com o cordão umbilical, qualquer coisa é poesia.

2 comentários:

Unknown disse...

Caito, meu irmão, agora descobri por que você é deste jeito... tadinho, fica assim não, você, apesar de tudo, é um sobrevivente...huahuahua

Thais disse...

Eu sabia que tudo tinha resposta.

Caião é sábio em suas palavras....

rs