domingo, julho 15, 2007

Tudo bem,
não creio em Deus.
Mas creio na divindade e
no mistério da vida.
No milagre da vida.

E como não crer?

Divindade sem Deus?
Divindade também é perfeição.
Simplesmente perfeição.
A natureza é perfeita.
Misteriosa.
Milagrosa.

A perfeição requer um criador?
Talvez.

______________Mas o criador também não requer um criador?

Por que o mistério tem de estar nele, não em nós?

Se Deus é o todo, eu sou Deus.
Princípio auto-criador.
Todo contido na parte.
A flor na semente, a semente na flor.

Nesse caso,
louvar a Deus é
reciclar seu lixo
sem esperar por isso
um quarto com frigobar no paraíso.

(entre outras coisas)

Duvidar do milagre é duvidar da vida.
Nunca duvido.
Mas o milagre é a natureza.
O milagre é natural.
O que é sobrenatural
não é milagre.
É mentira.

Duvidar de Deus é duvidar do homem e
isso me parece um tanto quanto necessário.

Ser ateu é assumir a responsabilidade
de também ser Deus.

Ser ateu é saber-se eterno.

Prosseguir no verme,
germe da vida.

Tornar-se terra, semente, flor.

8 comentários:

Alessuza Pires disse...

"Por que o mistério tem de estar nele, não em nós?"
Creio que seja porque julgamos nos conhecer e o mistério tem que estar em algo que não sejamos capazes de provar, pois assim jamais perderíamos nosso ponto de referência.
Mas julgo eu que crer na vida já seja por si só colocarmos diante de nós um outro ponto de referência.
A questão não é, na minha opinião, nossas crenças. Mas sim o fato de precisarmos de algo que nos estimule a pensar que tudo vai dar certo no final.
Para você isso é o mistério da vida...
^.~
Tenha uma ótima semana!

Priscila Lopes disse...

Caio, é impressionante o rápido amadurecimento que teus textos vêm sofrendo. Resultado de novas leituras? Novas influências? Você, por acaso, lê Leminski ou Quintana? Quem sabe até a filha do Leminski: Estrela Ruiz Leminski. Ótima! Recomendo: http://www.ailha.com.br/ameopoema/poesias.htm Dê uma olhada. Beijo!

Anônimo disse...

Já havia lido este texto, realmente impresisonante...estava no recanto das letras, né?

.hi-fi. disse...

...serei eu um ateu?

Diogo Lyra disse...

É como disse certa vez Fernando Pessoa: se Deus são as árvores, rios e montanhas, porque haveria eu de chamá-los Deus e não árvores e rios e montanhas?!

Novamente o portuga mais brilhante da história sentencia com extrema sabedoria: o sentido das coisas é não ter sentido algum.

Show!

Tchello Melo disse...

Sem paternalismo ou fanatismo para acreditar em si, realizando o milagre de tudo quanto se sonha.

Congratulações!

Fábio Cassimiro disse...

Lindo poema que me fez lembra um livro do Saramago, "Memorial do Convento", onde um padre inventor maluco tentava dizer que verdadeira divindade "vontades" estavam no interior de cada homem, ela era um pedaço do todo da humanidade.

Quando na morte uma pessoa expirava as vontades saiam das pessoas em direção ao alto, no entanto, algumas pessoas perdiam suas "vontades" ainda em vida.

Juntado "vontades" que as pessoas deixavam sair horas antes da morte o padre Bartolomeu criou uma máquina de voar - a passarinhola!

Anônimo disse...

Lembrei da Lispector: "Por que tanto pra Deus? Pq não um pouco para o Homem?"