quarta-feira, julho 18, 2007

Adeus

Às vezes fico pensando como ficam pensando que nos despedimos do mundo. Às vezes uma fatalidade pode arrancar uma vida, um filho que passa pela porta e nunca mais volta, um avião derrapa na aterrisagem, uma vela que apaga antes da hora. Ou não se apaga, cai no tapete acesa, e o bebê está dormindo.
Imagino como fica uma mãe que acabou de brigar com esse filho; um pai que acabou de se recusar ir assistir ao bebê para velar seu sono; um casal que acabou de terminar o relacionamento pela distância, e ela está voltando para seu país com uma passagem só de ida. Esse é o problema. O problema é quem fica. Uma culpa que não os pertence vai possuir seus corpos e suas almas de forma incomensurável. Uma culpa que é a verdadeira culpada, por simplesmente existir.
Aos que escrevem, resta uma luz. É como uma indulgência eterna - enquanto dure. A estes, que ousam tornar estáticos sentimentos que nem ao menos se sabem cíclicos, que utilizam símbolos para substituir dores, onde a dor e a felicidade é simbolizada por palavras vis - e muitas vezes rebeldes-, resta sempre se despedir. Não é justo, mas é o que se pode fazer. Os americanos não têm a palavra "saudade" em seu dicionário. Os escritores americanos não sentem saudade?
Para que, quando o mundo não suportar mais a minha raça, tudo se dissolva, recomendo a todos que, sempre que escreverem, soarem tristes. Sempre uma despedida. Será que qualquer espécie de registro deveria sempre conter uma mensagem de adeus? Ou um pedido de desculpas?
O ser humano fica mais inteligente quando fica quietinho, meditando, porque ele cresce por dentro. Essa história de modernização e tecnologia só estraga tudo. O ser humao cresce mais e evolui quando não se mobiliza para tornar o mundo melhor para viver. Às vezes o melhor para o mundo é o próprio mundo, e não o ser humano.

ELE EM MIM

Cá estou
Como o mundo
Devastado, tentando respirar
Ex
Pirar?

Cá estou
Como o mundo
Explodindo aqui e acolá
In
Terno?

Cá estou
Como o mundo
Contente por ainda me preservar
Con...
Tento?

Cá estou
Como o mundo
Cheio de combustível nuclear

Postos?

"Ter" virou mania
"Ser", claustrofobia

Sou um interruptor
Exquisito
Esquecido
E vivo

(In) feliz?
(In) sensível?

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto foda, Gú... adorei

Priscila Lopes disse...

Texto sensível, tocante, muito bom. O desfecho, lá no último parágrafo, bem contundente. Só não entendi se a poesia que vem em seguida é mesmo uma extensão do texto (uma vez que possui título) ou se você a colocou por ser pertinente - e óima também, o estilo com o qual me identifico tanto, obviamente, iria "cair no meu gosto". Abraços!