quarta-feira, julho 25, 2007

Praga - Parte 1 de 4

- Você vai fumar um cigarro aqui?
- Claro, to com a maior vontade. Ta de boa, não tem ninguém aqui.
- Deixa ele. Eu não to fumando cigarro nenhum.
- Cara, a gente já ta cabulando a missa. Se pegarem a gente aqui com você fumando, é suspensão pros três.

Fernando não conseguia esconder seu medo de ser pego, mas que merda! Precisava esconder. Foi nerd por tempo demais e gozava finalmente de mais respeito com seus colegas por ter batido em um moleque folgado do segundo colegial – bater em um menino que está uma série a frente é sempre uma proeza admirável. Além disso, finalmente arrumou uma namorada e não se sentia mais atrasado com relação ao resto da turma. O colegial era uma nova era para ele. Já Fred até que tinha se virado bem um pouco mais cedo. Não era o mais popular, tudo bem, mas tinha transito livre entre as turmas mais descoladas do colégio. Nada que se comparasse ao que Tico tinha. Era o bonitinho, menino alto, fortinho e de bochechas rosadas, cabelos loiros divididos ao meio, parecia saído de um filme de sessão da tarde. Ficava com as meninas mais lindas, tinha amigos bem mais velhos, fumava, bebia, andava de carro e voltava pra casa bem depois da meia noite. Sempre! Fernando e Fred até davam suas escapadas.

- Mãe, vou dormir na casa do Fred, os pais deles viajaram, tudo bem?

- Aí mãe, posso dormir na casa do Nando, parece que os pais dele vão viajar e a mãe dele falou pra ele chamar um amigo.

Caíam na farra, compravam um galão de vinho barato e não tomavam quase nada. Ficavam completamente bêbados. Iam aos shows das bandas que ouviam no rádio e juntavam alguns trocados para entrar vez ou outra nas baladas da moda, mas tinham dificuldades com as meninas e não poucas vezes saiam sem ficar com ninguém, muitas vezes inventando estórias sobre os longos momentos em que desapareciam para “caçar”. Não era o caso de Tico, claro. Vinha e voltava quando queria. Aonde ia, arrumava uma menina. Não era apenas a beleza. Era arrogante na medida certa para conquistar os corações das colegiais.

- Aí galera, como é que a gente diz em uma hora dessas?
- Para com isso Tico, eu já tenho duas suspensões, a dona Raimunda não vai com a minha cara!
- Deixa disso, Fê! Ta todo mundo na missa agora, cê acha que essas velha carola vão perder a pregação do corcunda de Notre Dame? O Tico tem razão, a escola é nossa!
- E então, como é que se fala?
- Ta bom, mano, ta bom.
- Fooooooooda-se! – disseram os três em uníssono.

Mas tinha o Juvêncio. Homem baixo, troncudo, cabelo castanho claro bem despenteado, bigode vasto. Parecia um famoso ator de filmes policiais e por isso todos o chamavam de Charles. Juvêncio os observou do prédio por vários minutos, como um chacal esperando que eles mesmos fossem até ele. Quando o resto da escola voltava da missa e os meninos se apressaram em se juntar sorrateiramente a massa para pegar as mochilas na sala de aula, Juvêncio já estava no pátio, à porta do prédio, esperando com cara de paisagem. Os três passaram como se nada tivesse acontecido, mas Juvêncio os deteve rispidamente.

- Vocês três aí, vem comigo e depois vocês pegam suas mochilas.
- Qual é Chales? Ta com desejo de matar?
- Eu vi vocês ali da janela, tava só esperando você terminar seu cigarro e vir pra cá. Vamos, pra diretoria.
- Que isso Charles? A gente tava rezando lá.
- Valeu por me deixar terminar. Você é fumante também?
- Aí, qual é a de vocês? Vocês tão achando o que? Pivetes! Querem saber de uma coisa? Vocês não vão ser nada na vida. Se bobear, nem entrar na faculdade vocês vão conseguir. Nem essa bosta desse colegial vocês vão conseguir terminar. Nada. Vocês vão é se ferrar, isso sim!
- É. Aí só vai restar virar bedel de escola.
- É o meu destino.
- Pode crer.

Nenhum comentário: