terça-feira, maio 08, 2007

O mundo é meu.

Chega do discurso retilíneo e infinito, que prossegue prossegue prossegue sem levar a lugar algum. Chega da caixa acolchoada e quentinha, que aparta o ser de um inóspito mundo das intensidades. Chega da luminária verde, da parede pintada com cores leves e aprazíveis, dos tacos bem lustrados, da "meia dúzia de pães franceses, e bem corados, por favor". Chega das aulas de tênis aos finais de semana. Chega dos leads, das aspas, das fontes, da ética, da moral e da putaqueopariu. Chega dessa organização opressora, que nos obriga a colocar o A na frente do W. Chega desses sentidos e conceitos pré-concebidos, que nos condena à lógica de nascer-trabalhar-procriar-morrer. Chega do lençol trocado a cada dois dias. Chega dos almoços de domingo em que não há diálogo, mas solilóquios em que cada um quer apenas se masturbar e mostrar aos outros um prazer próprio e vil. Chega dos pés no chão, das ambições, dos horários para acordar, almoçar, bater o cartão e escovar os dentes. Dos planos de previdência. Das preocupações futuras. Chega dos mesmos caminhos sempre, dos mapinhas mentais concretizados que não nos dão coragem para correr em locais sem chão. Chega do samba quadrado, da poesia por poesia, do texto pelo texto. Chega do vestibular, provão, avaliação, processo seletivo ou dê o nome que você quiser a essas bostas que não fazem outra coisa senão legitimar a lei do mais forte, do que tem mais, do que pôde mais a vida toda. Chega de ler os clássicos para vomitar tudo em mesas de bar e regozijar-se com a sensação de estar acima da média, de ser além do que os pobres homens e mulheres podem ser. Chega de cerimônias, protocolos, hábitos, costumes, respeitos e tradições. Chega de superfície. Chega de não estar nem acima-nem abaixo dela. Chega de suco de laranja com mamão. De abacaxi com hortelã. De café descafeinado e com adoçante. De cerveja sem álcool. De cigarro light. Chega de paliativos. Chega, chega, chega!

A essência é a busca incessante.
O mundo é meu.

E a partir de agora eu não quero mais dividi-lo com ninguém. Ou só com quem quiser [na essência].

5 comentários:

Cíntia Costa disse...

Às vezes, eu não acredito em vida fora de mim.

.hi-fi. disse...

são verdades demais coexistindo nessa ciranda de absurdos!

Anônimo disse...

seus paliativos são de uma autenticidade genial

Unknown disse...

to contigho e nao abro!

Unknown disse...

Caralho, acho que vou imprimir e colocar na geladeira da minha casa.