segunda-feira, junho 18, 2007

Recado ao Mágico

Dê um passo à frente, por favor, aquele que por gentileza quiser responder: Por que as pessoas assistem, de maneira passiva, à agonia do amor, da paixão e da intensidade? Por que muitos permanecerem imóveis e atônitos diante do leito em que sucumbem tão nobres sentimentos? Penso não se tratar de má fé – o que pode, inclusive, ser mais cruel. Acontece que o indivíduo está se esquecendo da importância e da grandeza que residem no ato da entrega. Afinal, entregar-se é se expor ao outro. É abrir mão de todo e qualquer tipo de defesa e tornar visíveis suas mais profundas e obscuras facetas. E este excesso de pudores para a doação me dilacera; traga minhas forças sem qualquer piedade. Nesta época esquisita em que vivemos, faz-se necessário lembrar que dividir(se) vai muito além da mera convivência a dois. Não é simples como sair vomitando palavras a esmo, desconhecendo suas causas e efeitos. Ou como aquelas mãozinhas frouxas que se sustentam menos por um impulso incontido e mais por uma falaciosa comodidade, filha do medo de estar só e de ter de conviver com os assustadores fantasmas da solidão que convivem na própria consciência do ser humano. Uma pessoa é demais para ela mesma, e é exatamente por isso – e não por qualquer outro motivo – que alguns se contentam com tão pouco. Porque a lógica se inverteu e agora chegou ao absurdo de mandar dizer que “antes mal acompanhado que só”. E assim vamos vivendo, entregues à mediocridade e ao ceticismo. Soterrados pela avalanche do dia-a-dia que nos ordena comer e dormir, tornando a vida cada vez mais opaca e insípida. Este automatismo nos levará à estiagem total (e irreversível) do sentir, dos abraços que deixam marcas de dedos nos braços, dos beijos dados de maneira selvagem, como se a nossa própria alma quisesse atravessar a garganta do outro e lançar-se sem medo para dentro de seu coração. Viva o amor enlatado, encontrado na prateleira de qualquer cadeia estrangeira de hipermercados. Viva a paixão de isopor, vendida em embalagens descartáveis, dessas ecologicamente sustentáveis. Aos Quixotes de plantão, desejo força. Faço votos para que a suposta ingenuidade que os motiva a continuar pelejando não seja derrotada pela maioria pragmática. Quanto a mim, avise ao Mágico de Oz que, se tudo continuar assim, devolverei meu coração humano e ficarei apenas com a minha gasta carcaça de lata.

3 comentários:

Anônimo disse...

é a arte do encontro, né...

Talvez sejamos artistas algum dia, talvez façamos malabarismo no farol. E onde entra aquele ditado "o menos é mais" ?

Priscila Lopes disse...

Olha, detesto comparações, mas quando são parte de uma evolução, até me me permito as expor sem remorso: dos teus textos, este foi o que mais me tocou. Muito bem escrito, com fluidez e sinceridade. Meus parabéns!

Anônimo disse...

Lindo.