terça-feira, março 04, 2008

De uma catraca a outra #4 - Punk rock, asfalto e nascer do sol - um belo jeito de começar uma manhã.

Não diferente de outros dias. Fones de ouvido estourando nos ouvidos, metrô - o caminho da escola. Ter 16 em São Paulo é poder ver o sol nascer de cima do viaduto, entre prédios - o sol realmente nasce pra todos, filhos do concreto ou da terra - e nem assim deixa de ser um espetáculo.

Estudar e trabalhar, duas coisas que não fazem sentido, a primeira só é usada em provas que não provam nada, a segunda é a escravidão paga em parcelas, não para um senhor mercador, mas ao próprio escravo...incoerências - e ser incoerente é ser adulto. Por exemplo: não há porquê correr na cidade, 6 minutos de atraso não serão ganhos com uma corrida que adiantará 33 segundos. Ah sim, há o teatro matinal: 'atrasei por causa do metrô' [respiração ofegante], 'tava muito ruim chegar aqui hoje' [limpando gota de suor na testa]. Que seja pra contracenar, mas não pra recuperar atraso:

- Bom dia D. Lurdes!
- Atrasado também!?
- [sim com a cabeça]
- Vão tomar falta.
- [de ombros]

O lugar de todos atrasados é a cantina, o que nos dá 2 recreios...ok, colegial - ensino médio, o que nos dá 2 intervalos por dia.

- Todo mundo pra sala! - é o chamado-autorização da Raquel, coordenadora do colégio.

Na sala:
- E ae?
- Beleza?
- Metrô tava zuado hoje.
- Que porra.
- Já ouviram Ramones?
- Só uma música ou outra.
- Tô com um cd deles, ao vivo!
- Da hora!
- Tô ouvindo esses dias no metrô.
- Conheço umas músicas. Tô só no Millencolin agora.
- Orra! Gabba gabba hey! Gabba gabba hey!
- Hahahaha!
- Destrói muito mais que o: Hey! ho! Let´s Go!

A volta não é diferente se você estuda até o período da tarde. Metrô lotado, o que salva é o Ramones no vagão: air-guitar, air-bass, air-drums - banda de um homem só, diversas bandas de bons rapazaes e garotas sós, palcos em cada pedaço de borracha preta do vagão, micro-espaços de subversão, punk rock da garagem pros trilhos. Um grito balbuciado, os pés contra o chão, e a cabeça acompanhando bateria, guitarra e baixo - nosso caminho de iluminação diária, de fuga da incoerente adultice.

Um comentário:

Marcelo Iha disse...

Punk rock alivia muitas torturas às quais estamos submetidos no dia-a-dia caótico da cidade e das instituições pré-estabelecidas e pré-concebidas que são feitas por e para seres não-humanos...