terça-feira, março 25, 2008

De uma catraca a outra #7 - Aeromoça

Por vezes é necessária muita sensibilidade para salvar o dia. Por outras, pérolas brotam, e o dia pode começar com um: 'bom dia!'.

A letargia metrônica se dá ao fechar das portas do trem, o sono se mistura ao ar denso e quente do vagão superlotado, a respiração baixa e os olhos se fecham naturalmente, nesse dia fui interrompido por uma rotina modificada:
- Próxima estação Vila Matilde. Ao desembarcar cuidado com o vão entre o trem e a plataforma, evite acidentes graves.

O que despertou não foi o alerta, mas a voz dos alto-falantes, com a suavidade que raras comissárias de bordo, e/ou profissionais da voz têm, uma pronúncia clara e terna - a maquinista do céu, a viagem se deu incrivelmente agradável nessa manhã. Parecia que até o empurra-empurra havia dimiuido.

Me acusaram de iludido, mas meu 'bom dia' foi muito melhorado por esse fato. E então houve uma reação em cadeia de bons 'bom dia', um 'bom dia' animado pode animar, ou reanimar, uma pessoa, que pode responder com um sorriso e dar outro 'bom dia' melhor que o anterior - e assim até esbarrar novamente na loucura cotidiana pessoal. Com isso o começo da manhã foi garantido, o que nem sempre sustenta o resto do dia. Essa necessidade de âncoras de humanidade no centro de pedra, metal e eletricidade, pra suavizar o que nos foi roubado, ou reprogramado, pra uma pausa nos ponteiros do relógio. Quem precisa de um coração? Trens de aço? Homens de lata?

- Por mais maquinistas humanas!!!

3 comentários:

Bianca Feijó disse...

Um bom dia salva uma ruim tarde...rsrs...

Até o bom dia dos Homens de lata são sonoros até o final do dia...

Os textos daqui são uma máfia de escritores caros...rsrs...e no minimo, muito bons!

BOM DIAAA!!!

B.E.I.J.O.S

José Henrique Lopes disse...

uma voz que te olhou na íris?

Anônimo disse...

Mais que a voz, acho que estava bonito o seu ouvir: Preciso de um coração, homens de lata, preciso de um coração...