terça-feira, novembro 20, 2007

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 12
Ainda sem título

Fui até o canto mais escuro do estoque, apoiei a cabeça sobre a mão, fechei os olhos.
"Força!". Tanta loja naquele shopping e a mina dele tinha que querer vir comprar aqui?
Rolou aquele encontro tenso de olhares quando meu ex entrou na loja. Não nos cumprimentamos. O [vendedor] atendeu os dois e eles foram para o outro canto da loja.
Eu estava atendendo um outro cara. Continuei sorrindo, sendo simpática, mostrando roupas.
Por dentro, morrendo de vontade de sair correndo dali.
Não nos víamos há pelo menos mais de um ano, desde que terminamos. Quer dizer, vamos ser sinceros. Ele que terminou comigo, num dos útlimos dias de aula. Na formatura, já estava com outra.
Nunca mais conversamos. Quando a namorada dele entrou no provador, ele veio em minha direção. Não, eu não estava preparada. Ia acabar amolecendo, chorando ou perdendo a compostura no meio do expediente. Ele não merecia. Ainda mais porque era aquela piranha que ia sair com ele dali.
Falei pro meu cliente que ia buscar uma camiseta legal pra combinar e corri pro estoque.
Até que enrolei bastante, mas quando saí, dei de cara ele. Todo sem graça, me pediu pra avisar o [vendedor], que tinha entrado no estoque, para trazer uma calça tamanho 36 pra ela - a 38 ficou sobrando na cintura. Eu sou manequim 40. Não que eu me ache gorda, mas é sempre ruim saber que você foi trocada por alguém mais magra.
A tortura durou mais uns 40 minutos. Ela, que parecia não saber quem eu era (ou tinha sido), ficou pedindo a minha opinião. Fiz o que pude pra ela decidir logo por um modelo (o mais caro) e sair logo dali.

Dois dias depois, o [ex] voltou aqui. Dessa vez, me chamou pelo nome. Pedi uma pausa pra fumar e fui conversar com ele.
"Desde quando você fuma?".
Eu sabia que ele detestava, então fiz questão de acender um cigarro - e até de fumar.
"O que você quer?"
"Foi estranho te reencontrar depois de tanto tempo... Você tá diferente..". Fez aquela carinha de bom-moço do início do namoro.
"Pensei que a gente podia sair um dia desses, comer uma pizza, conversar melhor". Tentou passar a mão no meu cabelo.
Cachorro.
"Qual o nome dela?"
"[nome]. A gente não tá..."
"Ela sabe que você tá aqui?"
"Não, quer dizer, eu tava por aqui e daí resolvi passar na loja.."
Desencostei do murinho, apaguei o cigarro.
"Que foi? Peraí...".
"Se você quer foder com ela como fez comigo, o problema é seu. Só não me envolva nisso".
"[protagonista]"
Com o coração disparado, surpresa pela minha própria frieza, saí andando, as fortes pisadas do salto no mármore do chão me dando orgulho de mim mesma.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sejamos implacáveis com os nossos opressores!

Mesmo que sejam ex-amigos ou ex-amores...

Gostei do teu texto!

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.


Abraços, flores, estrelas..

.hi-fi. disse...

não quero mais capítulos, me passa o romance inteiro!