terça-feira, abril 29, 2008

De uma catraca a outra #10 - Eles não sabem andar de metrô! [parte 2]

Mp3 player novo, Wilson completara 18, e ganhara de seus pais um mp3 player, poderia agora ouvir músicas durante sua jornada diária. Na playlist: punk rock e rap, cantavam o que Wilson tinha vontade de dizer a cada fdp que faz o mundo piorar.

É quinta-feira - falta só mais um dia! - ultimamente anda pensando muito o que é ter 18 anos: exército, trabalho, cadeia, vestibular, dirigir! - 18 anos, mais interessante que assustador, ainda bem! perto da escada rolante uma senhora com seus aproximados 70 anos arrasta uma mala, dessas com rodinhas. Wilson prontamente a ajuda carregando sua mala pela escada:

- Obrigada.
- De nada. Senhora o embarque preferencial é do outro lado.
- Ali?
- Isso.
- Tá bom, obrigada.

Como pessoas decidem viajar tendo que pegar o metrô nesse horário? No vagão devidamente lotado, música para meditar rumo a Sé, suavizar o contato físico obrigatório com pessoas que ele não sabe nem o nome - Nem com meus pais fico nesse contato todo. Pendurado na barra, segue de olhos fechados, em uma das piscadas, olha pro banco próximo á porta do outro lado. Uma garota com 2 mochilas e uma sacola em seu colo, quase que sumindo na pilha, no primeiro instante achou engraçado, no segundo seguinte notou que por trás das mochilas e da sacola havia um par de óculos, e atrás dos óculos uma garota de olhos castanhos, cabelo meio colorido - apenas algumas partes do cabelo estavam vermelhos, e piercing na orelha.
Wilson não dormiu mais, só disfarçou na primeira olhadela dela. Ele sorriu e fingiu ser por causa da música, mexendo um pouco as pernas e a cabeça, não que a música não se encaixasse: 'Ser punk eu quero ser, punk com você'[Gritando H.C.], mas preferiu ser discreto. No desembarque, na estação Sé a garota das mochilas devolveu as bagagens aos respectivos donos e desceu, Wilson a perdera de vista, distraído não percebeu que uma mulher parou de repente para lhe dar passagem na entrada da escada rolante, ela então interveio:
- Esse mundo de hoje, viu? Mulher tem que dar passagem pra esses cavalos.

Wilson percebeu mas não respondeu, apenas sorriu, ganhar alguns segundos, pra pensar em algo pra responder ao xingamento quase gratuito, nisso, um senhor abriu o verbo:
- Minha senhora, eu tenho muita certeza da educação que tive, mas a necessidade das pessoas andarem é maior. Se a senhora ficar no meio do caminho acabará empurrada.

Wilson não precisou dizer mais nada, tudo resolvido, mais uma lei da selva de pedra pra aqueles que não sabem andar de metrô: andar no fluxo apressado e insano das pessoas, pois se for mais lento é empurrado, e se for mais rápido acaba empurrando.
Pensativo achou que a mulher merecia uma resposta ordinária, mas percebeu que estaria entrando na loucura alheia, como ela, que com toda a sua educação queria evitar. E também já não importava mais, encontrara uma jóia reluzente no mar de confusão.

Um comentário:

Bianca Feijó disse...

"- Esse mundo de hoje, viu? Mulher tem que dar passagem pra esses cavalos."

Hahahaha

Gostei muito desse texto,muito bom!


Aproveito e convido-o a paticipar da enquete em meu blog...

B.E.I.J.O.S