quarta-feira, maio 28, 2008

O caos que me espera a cada esquina
E o barulho da sirene
É a mais pura anfetamina

É muita ambulância e viatura !
Minha coluna está ficando dura!

Porra! Esse barulho de buzina
Sinfonia tão solene
Minha alma contamina

Estou ficando cheio de bravura!
Lutando a cada mísera abertura!

Fodeu! Eu já estou tão atrasado
Essa velha na minha frente
O sinal sempre fechado

Eu já fumei um maço de cigarros!
Já tive os pensamentos mais bizarros!

Ainda bem, não tinha um machado
Em momento delinqüente
Eu teria condenado

O Corsa preto da velha do lado!
E a cabeça do seu cachorro caro!

Acho que estou enlouquecendo.

Meu caro, por favor, me deixe passar!
Meu caro, por favor, eu vou me matar!

Meu carro, meu caro! Meu carro caro!
Meu carro, meu carro, meu carro!

***

Espaireço, emudeço, enlouqueço

>>>>>>>>>>>>Encaro
>>>>>>>>>>>>>>Meu carro
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>Caro
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>M
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>eu Carro!

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>Encarro.

terça-feira, maio 27, 2008

Curto # 26 (juliana de maio)

Nada
de novo se acaba
o céu sereno
e a lua alta
silenciando mágoas...

Complexo de Torre de Pisa

Eu estou de saco cheio de tudo. Quando não é uma coisa é outra. Ou dinheiro, ou satisfação profissional, ou prazer, ou amor. Esses devem ser os pilares da minha vida. E sempre existe um que vai muito bem, obrigado. Às vezes dois, quiçá três. Porque diabos não consigo ficar ereto? neutralizar as estruturas talvez fosse uma saída, mas aí entraria num estado de autismo profundo, pior do que este que já vivo. Estou farto da pendência, em todos os sentidos da palavra. Eu sempre devo E pendo. E isso me destrói de uma forma que é inconcebível.
Existe algo errado em querer viver as coisas de forma simples? Em almejar uma vida perfeita? SIM! Ela não é perfeita e nem simples. Óbvio. Porque o racional insiste em brigar com o emocional? Muita gente daria tudo para ter a vida de muita gente, doce ilusão. Eu só quero não ter coração. E nem cérebro.

Mulheres de hoje

Regiane é dessas mulheres de hoje. Dessas que gostam de dizer aos quatro ventos que sim, é possível viver assim, sozinha. Vai ao mercado, compra lasanha (de porção individual) e sente orgulho ao programar os 15 minutos e pensar “ninguém precisa de ninguém nessa vida, veja como eu me viro”. No trabalho é aquele trator, temida e admirada ao mesmo tempo, sobretudo por aqueles babacas engravatados, que entre um café e outro falam de sua postura imponente. Ah, como os homens são tolos e fracos. Toda sexta-feira, expediente acabado, pega sua bolsa roxa, celular de última, e vai encontrar as amigas – todas assim, que nem ela. Quatro, cinco, seis na mesma mesa, de sorriso no rosto, felicidade expressa nas palminhas que batem a cada piada. Todas bem-sucedidas, contando histórias que remetem, em sua maioria, aos caras que não sabem de nada, que mandam mal na cama, que causam asco com seu machismo, com sua escrotice, com seu papo morno sobre vinhos, sobre mercado de ações, sobre política, sobre futebol. Três drinques depois, e alguns flertes com o grisalho da mesa ao lado, torna a pegar a bolsa roxa, sai cambaleando, mas ainda batendo as palminhas, e aperta o controle de alarme do seu Crossfox prata. Em casa, deita. E rola na cama. Direita, esquerda, direita, esquerda. Puxa o lençol e, por fim, joga-o longe, para fora da cama. Pensa que talvez esteja lhe faltando alguma coisa.

terça-feira, maio 13, 2008

De uma catraca a outra #12 - Eles não sabem andar de metrô! [parte 4]

Noite, volta pra casa, sexta-feira, todos resolveram cabular o dia no colégio. Um grupo combinou de se encontrar no cinema. Wilson resolvera voltar cedo pra casa, adiantar os trabalhos da escola pra ter o fim de semana inteiramente livre.
Na Estação República, 18h25 - se der sorte você vai sentado em um dos trens que param vazios. O alvoroço na volta é maior do que na ida ao trabalho, mais grupos de amigos, mais casais, mais piadas coletivas:
- Vamo entrando minha gente, tem espaço, ainda não tão em cima do meu pé.
- Sem peidar hein Marcão.
- Então não empurra minha barriga.

Portas abertas. Wilson conseguiu se sentar no banco e ficar de lado pra janela. Quando a multidão se ajeitou começou a ouvir uma história:
- Pois é, eu tenho um amigo que o tio dele era maquinista do metrô.
- Sério?
- Verdade, ele contou umas histórias sinistras.
- Tipo o quê?
- Ah, cara se jogando na linha, efeito fantasma no trilho em dia de chuva.
- Cara se jogando? Isso é verdade? Ninguém nunca viu pessoa se jogando no trilho.
- Esse tio do meu camarada viu. Ele disse que qdo viu o primeio foi foda, passou um tempo na terapia, aí voltou viu um 2o. se jogando, pediu demissão no mesmo dia.
- Caralho! Foda. Profissão de risco.
- É insalubre mané!
- Mesma coisa. Falando nisso, outro dia tinha um piloto de metrô acelerado, ou acelerado ou cuzão.
- Buzinando pra galera?
- Nem, tipo: metrô lotado, aí tocava a campainha sem fechar a porta, só pra a galera começar a correr.
- Hehehe! deve ser engraçado fazer isso.
- Aí, chegou na Sé, falo ae Jão.
- Falou! Até amanhã!

Na Sé a gritaria e empurra semelhante ao da República. Campainha, portas fechadas, trem partindo:
- Oi! - perguntou uma menina
- ...
- Oi!?
- Oi! Nossa, você? - respondeu Wilson.
- Cabulando aula também é? - respondeu a menina entregando sua mochila.
- Pois é.
- Eu não tô cabulando não, o professor avisou que ia faltar. Hehehe!
- Ah tá, mais fácil. Mais certo né? - emendeu Wilson.
- É. Ei, eu ainda não sei seu nome.
- Wilson.
- O meu é Julia.
Julia, pensou Wilson:
- Que nome bonito.
- Obrigada! Não conheço muitos Wilson.

Será que ela achou meu nome estranho? Wilson e Julia, melhor que Winston e Julia? - indagava Wilson. Julia era então o nome da prestativa garota sempre pronta pra carregar a bagagem de todos, Julia é a garota das mochilas. No banco em frente ao de Wilson, um rapaz cedera lugar pra uma senhora com criança no colo:
- Qual o nome dele? - perguntou Julia à mãe da criança.
- Denis.
- Me empresta a mochila, pediu Julia a Wilson.

Ela arrancou uma folha de fichário e devolveu a mochila a Wilson. Julia começou a dobrar a folha, até entregar um barco de papel ao garoto, sorrisos em todos a volta, com o olhar de surpresa e alegria de Denis. Putz, essa menina é pra casar! - contemplou Wilson.

- Estação Vila Matilde.
- Eu desço aqui. Até amanhã! - despediu-se Julia com um beijo no rosto de Wilson.
- Tchau. - respondeu Wilson.
- Obrigada!
Eu que agradeço, murmurou Wilson um sorriso pra todos que pudessem vê-lo. Não é preciso saber andar de metrô, saber origami é mais importante!

segunda-feira, maio 12, 2008

cada pedaço do chão está
l e n t a m e n t e
ru
indo
sob meus pés

minha cabeça se des integra
se entrega

tudo está se d e s
constru
indo
e eu estou cá indo
e eu estou cá rindo
eu estou calminho
calminho, calminho, caminho

tudo está se d e s
constru
indo
a poesia
a rebeldia
a dicotomia
a nostalgia
a novalgina
a vagina
a vitamina

tudo está se d e s
constru
indo

eu estou des
constru
ido
cá ido, do ido, mo ido

como peças de lego
como vaca atolada
como boi ralado
um ped aço
pra cada
lado
des mem bra do

mas ainda assim
sentindo

querendo fazer
algum sentido

- sentido!

semtisentidorsemtisentisemsentidosentadosentisuasentençasem
sacoseguisemcertezasensatoaceiteisuasentençasemsacosentican
saçoconticegueiracomtisarcasmosemtisolidãoemtisacieisemtisa
ciadocansadoconfusoacabeçasemparafusodifusosemfusodelado
animallibertadosósabeviverenjauladoepássaroengaioladosósabe

cantar

mas não sabe voar?

boneco de re-talhos
des-costurado
de costas
des costurado
de cócoras
des-costurado
de colo
des-costurado
de mente
inteira mente!

feto enfastiado fora do útero

faz frio faz fome faz falta

mas tanto faz.

sexta-feira, maio 09, 2008

Último

Eu estou em um bar antigo e as pessoas parecem violentas
de quando em quando enquanto eu converso com as pessoas alguns homens se juntam em uma roda e lutam as lutas acabam sempre em uma morte os homens que vencem as lutas rápidas com armas brancas atiram depois de vencedores cada um deles uma garrafa que se quebra contra uma espécie de coluna de concreto as pessoas conversam comigo e todas elas aparentam ser pacíficas mas quando as fito nos olhos explode dentro de mim o olhar violento de olhos vermelhos e brilhantes olhos de raiva eu não sei o que sinto pareço estar ali me divertindo mas como parecem meus olhos eu não sei o menino se aproxima e ele mesmo tem os olhos de raiva me impressiona estou agora conversando com alguns homens e eu digo alguma coisa simpática talvez e essa mesma coisa simpática torna-os aborrecidos comigo sinto algo incomodando meu pescoço e percebo que eu estou imobilizado meu corpo lentamente é movido para trás sem minha vontade e meus olhos enxergam o que incomodava meu pescoço eu exclamo Não! Não! Não! e tento afastar a faca do meu pescoço com as mãos mas meu polegar é cortado e eu sinto a faca correndo pelo meu pescoço dividindo a pele cindindo meu pescoço em dois talhos bem próximos enquanto o sangue brota atônito diante do novo caminho a percorrer e eu sinto o sangue se avolumando e aumentando o tamanho da fenda aberta no meu pescoço e não consigo me recordar do que eu sinto.

terça-feira, maio 06, 2008

De uma catraca a outra #11 - Eles não sabem andar de metrô! [parte 3]

A manhã dessa quarta-feira já não começou bem. Metrô lotado, com maiores paradas e paradas no meio do caminho, o maquinista anuncia um usuário na linha da estação Belém. Wilson sabe que podem ser vários causos pra essa mesma desculpa:
1) Assalto na referida estação
2) Acidente do tipo: usuário caiu no vão entre o trem e a plataforma
3) Usuário arrastado pelo trem
4) Usuário se jogou na linha

Apesar de nunca ter ouvido de alguém que presenciou a história do tipo 4, não duvidava da possibilidade, quanto aos outros já conhecia diversos episódios. Há um ano ouviu uma história de um aluno do colégio que foi arrastado pela mochila presa na porta do trem, logo depois de ter ajudado no desembarque de uma senhora, até viu esse aluno depois pelo colégio, com uma espécie de colete com metais externos.
Mais uma aceleração no trem. Alarme falso, parada na linha de novo. Esse tipo de situação o lembra de duas coisas: operação tartaruga e greve - ele sabe que sem metrô, é muito pior do que a situação em que se encontrava. Mas não entendia como ousavam fazer greve, aliás não entendia greve nenhuma. Certa vez foi numa palestra que o grêmio de sua escola estava realizando, algo sobre passe livre aos estudantes. Nessa palestra descobriu que essas televisionadas badernas são na verdade formas de demonstrar força, poder, barulho. Achou interessante o poder do povo, a voz do povo, mas logo percebeu que se tratava da mesma espécie dos políticos - exercício de poder, manipulação de muitos pra interesse de poucos, então continua a não acreditar em nada com mais de 5 pessoas - até mesmo quando seus pais tentam combinar algo com os outros tios há desavenças. Ouviu também algo chamado de 'luta histórica', o que conclui são conquistas não conquistadas mesmo depois de mutias greves, pronto, já não havia mais como acreditar.

Wilson, não só passara a não acreditar como se tornou contra - Greve é instrumento de diálogo obsoleto, chantagista e manipulador de massas! Esses fdp ganham mais do que eu pra ficar parando a cidade inteira, deveriam é se reunir e cobrar o patrão deles, o governo, todos os dias, e não em cronogramas sindicais, cobrar melhores condições pra nós, que dependemos do metrô, e não para encher os próprios bolsos. Cambada de cuzão. Nos auto-falantes:
- O metrô está com velocidade reduzida e maior tempo de parada devido a presença de usuário entre as estações Belém e Tatuapé. Tempo de normalização: 3 minutos.
Dezoito minutos depois Wilson chegava na Sé.

Na volta...
Dia cheio, mas na escola o encontro com os amigos ameniza o dia. Hoje porém ninguém o acompanhara na volta, um pessoal decidiu pegar ônibus, e Jonas, que sempre voltava com ele pegou carona com a Alison e com o Rodolfo. O que dava mais tempo pra pensar, ouvindo música, porém antes de colocar o fone no lado esquerdo:
- Oi, posso segurar sua mochila? =)
- Cl...Claro! - com aquela cara de espanto e riso ao mesmo tempo.
Não acreditava na sua sorte, era a garota de uma semana atrás, a garota das mochilas. Ela não se pôs a carregar apenas a sua mochila, no banco logo ao lado da porta uma garota com cadernos e pasta na mão:
- Quer que eu segure suas coisas?
- Não precisa, obrigada.
- Que música você tá ouvindo? - perguntou virando-se pra Wilson.
- Hmmm - se concentrou nos fones - Tic tac o tempo vai passando e a gente aqui sentado num banquinho conversando...
- Hihihi! hehe! eu conheço! mas é meio antiga.
- É clássica!

A menina dos cadernos distraída, e os cadernos a cutucar a garota das mochilas. A garota das mochilas deita sua cabeça nos cadernos, os cadernos pesam:
- ...pode levar eles pra mim. - pede um tanto sem reação a garota dos cadernos.
- Tá, tudo bem. - responde protamente a garota das mochilas.
Wilson a observar com um sorriso pouco disfarçado - Agora o dia pode acabar. Tic tac o tempo vai passando...

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 83 - O cara da bermuda vermelha

Eram 17h25 quando o cara da bermuda entrou. O dia estava uma bosta. Como em todo o sábado, a loja estava bombando e eu, atendendo mais de uma pessoa por vez.
Já tinha atendido, inclusive, umas seis pessoas e fechado só uma venda ridícula de R$ [valor baixo].

Uma das clientes ficou 40 minutos se decidindo entre duas calças, não levou nenhuma e ainda reclamou do atendimento. Estava só esperando o [vendedor chato] voltar do descanso dele pra tirar a minha meia hora quando o [cliente] me abordou.

Com um sorriso desanimado perguntei seu nome e o que estava procurando. Uma bermuda vermelha. "Qual o seu tamanho? Ok, você aguarda um minutinho que eu já trago? Vou só levar essa blusinha pra moça no provador."

A moça do provador, uma gordinha que insistia em provar peças menores que ela, ficou um tempão reclamando da modelagem da loja, que o "M" daqui é menor que o padrão e o caralho a quatro, e eu esqueci completamente do cara.

Ele ficou uns bons 15 minutos esperando a bermuda. Quando me despedi da chata (que pelo menos comprou uma blusa), foi que o percebi perto das camisetas. Ele olhou pra mim, morri de vergonha. "Desculpe, querido, to trazer sua bermuda já! Qual o tamanho mesmo?".

Pra minha surpresa - e sorte - ele estava calmo e não reclamou. "Agora, pelo menos, você tem que dar atenção só pra mim!". "Ótimo, amigo, tudo que eu não quero é atender mais uma cliente pentelha". Pensei, não falei. Só um sorrisinho bastou.

Em 10 minutos, ele escolheu uma bermuda e aceitou uma camiseta que ofereci e resolveu o assunto. Não reclamou de nada, não me pediu pra ver mais dez coisas, não se estressou com nada. Foi um sopro de tranquilidade num dia de merda. Pela primeira vez em cinco meses eu quis que não tivesse sido tão rápido.

sábado, maio 03, 2008

O reflexo na tua retina

(uma tentativa de metalinguagem)