terça-feira, maio 06, 2008

Entre a vitrine e o estoque - Memórias de uma vendedora de shopping

Capítulo 83 - O cara da bermuda vermelha

Eram 17h25 quando o cara da bermuda entrou. O dia estava uma bosta. Como em todo o sábado, a loja estava bombando e eu, atendendo mais de uma pessoa por vez.
Já tinha atendido, inclusive, umas seis pessoas e fechado só uma venda ridícula de R$ [valor baixo].

Uma das clientes ficou 40 minutos se decidindo entre duas calças, não levou nenhuma e ainda reclamou do atendimento. Estava só esperando o [vendedor chato] voltar do descanso dele pra tirar a minha meia hora quando o [cliente] me abordou.

Com um sorriso desanimado perguntei seu nome e o que estava procurando. Uma bermuda vermelha. "Qual o seu tamanho? Ok, você aguarda um minutinho que eu já trago? Vou só levar essa blusinha pra moça no provador."

A moça do provador, uma gordinha que insistia em provar peças menores que ela, ficou um tempão reclamando da modelagem da loja, que o "M" daqui é menor que o padrão e o caralho a quatro, e eu esqueci completamente do cara.

Ele ficou uns bons 15 minutos esperando a bermuda. Quando me despedi da chata (que pelo menos comprou uma blusa), foi que o percebi perto das camisetas. Ele olhou pra mim, morri de vergonha. "Desculpe, querido, to trazer sua bermuda já! Qual o tamanho mesmo?".

Pra minha surpresa - e sorte - ele estava calmo e não reclamou. "Agora, pelo menos, você tem que dar atenção só pra mim!". "Ótimo, amigo, tudo que eu não quero é atender mais uma cliente pentelha". Pensei, não falei. Só um sorrisinho bastou.

Em 10 minutos, ele escolheu uma bermuda e aceitou uma camiseta que ofereci e resolveu o assunto. Não reclamou de nada, não me pediu pra ver mais dez coisas, não se estressou com nada. Foi um sopro de tranquilidade num dia de merda. Pela primeira vez em cinco meses eu quis que não tivesse sido tão rápido.

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