terça-feira, maio 06, 2008

De uma catraca a outra #11 - Eles não sabem andar de metrô! [parte 3]

A manhã dessa quarta-feira já não começou bem. Metrô lotado, com maiores paradas e paradas no meio do caminho, o maquinista anuncia um usuário na linha da estação Belém. Wilson sabe que podem ser vários causos pra essa mesma desculpa:
1) Assalto na referida estação
2) Acidente do tipo: usuário caiu no vão entre o trem e a plataforma
3) Usuário arrastado pelo trem
4) Usuário se jogou na linha

Apesar de nunca ter ouvido de alguém que presenciou a história do tipo 4, não duvidava da possibilidade, quanto aos outros já conhecia diversos episódios. Há um ano ouviu uma história de um aluno do colégio que foi arrastado pela mochila presa na porta do trem, logo depois de ter ajudado no desembarque de uma senhora, até viu esse aluno depois pelo colégio, com uma espécie de colete com metais externos.
Mais uma aceleração no trem. Alarme falso, parada na linha de novo. Esse tipo de situação o lembra de duas coisas: operação tartaruga e greve - ele sabe que sem metrô, é muito pior do que a situação em que se encontrava. Mas não entendia como ousavam fazer greve, aliás não entendia greve nenhuma. Certa vez foi numa palestra que o grêmio de sua escola estava realizando, algo sobre passe livre aos estudantes. Nessa palestra descobriu que essas televisionadas badernas são na verdade formas de demonstrar força, poder, barulho. Achou interessante o poder do povo, a voz do povo, mas logo percebeu que se tratava da mesma espécie dos políticos - exercício de poder, manipulação de muitos pra interesse de poucos, então continua a não acreditar em nada com mais de 5 pessoas - até mesmo quando seus pais tentam combinar algo com os outros tios há desavenças. Ouviu também algo chamado de 'luta histórica', o que conclui são conquistas não conquistadas mesmo depois de mutias greves, pronto, já não havia mais como acreditar.

Wilson, não só passara a não acreditar como se tornou contra - Greve é instrumento de diálogo obsoleto, chantagista e manipulador de massas! Esses fdp ganham mais do que eu pra ficar parando a cidade inteira, deveriam é se reunir e cobrar o patrão deles, o governo, todos os dias, e não em cronogramas sindicais, cobrar melhores condições pra nós, que dependemos do metrô, e não para encher os próprios bolsos. Cambada de cuzão. Nos auto-falantes:
- O metrô está com velocidade reduzida e maior tempo de parada devido a presença de usuário entre as estações Belém e Tatuapé. Tempo de normalização: 3 minutos.
Dezoito minutos depois Wilson chegava na Sé.

Na volta...
Dia cheio, mas na escola o encontro com os amigos ameniza o dia. Hoje porém ninguém o acompanhara na volta, um pessoal decidiu pegar ônibus, e Jonas, que sempre voltava com ele pegou carona com a Alison e com o Rodolfo. O que dava mais tempo pra pensar, ouvindo música, porém antes de colocar o fone no lado esquerdo:
- Oi, posso segurar sua mochila? =)
- Cl...Claro! - com aquela cara de espanto e riso ao mesmo tempo.
Não acreditava na sua sorte, era a garota de uma semana atrás, a garota das mochilas. Ela não se pôs a carregar apenas a sua mochila, no banco logo ao lado da porta uma garota com cadernos e pasta na mão:
- Quer que eu segure suas coisas?
- Não precisa, obrigada.
- Que música você tá ouvindo? - perguntou virando-se pra Wilson.
- Hmmm - se concentrou nos fones - Tic tac o tempo vai passando e a gente aqui sentado num banquinho conversando...
- Hihihi! hehe! eu conheço! mas é meio antiga.
- É clássica!

A menina dos cadernos distraída, e os cadernos a cutucar a garota das mochilas. A garota das mochilas deita sua cabeça nos cadernos, os cadernos pesam:
- ...pode levar eles pra mim. - pede um tanto sem reação a garota dos cadernos.
- Tá, tudo bem. - responde protamente a garota das mochilas.
Wilson a observar com um sorriso pouco disfarçado - Agora o dia pode acabar. Tic tac o tempo vai passando...

Um comentário:

Anônimo disse...

Wilson já figura na galeria de heróis adolescentes...Tipo o Tommy.