quinta-feira, abril 05, 2007

Sobre Holden Caulfield

Trata-se de um ser contraditório. Absorve e regurgita o mundo que o cerca a partir das mais evidentes futilidades, por meio de um vocabulário tão insosso e chulo quanto seu próprio cotidiano. À primeira vista, parece ser daqueles adolescentes típicos, cabeças-de-vento. Ainda meio verdes.

Entretanto, na medida em que a trama cresce, envolve e consome quem a acompanha, este mesmo personagem surpreende ao se libertar, em um ritmo quase imperceptível, da crisálida que outrora o escondia. Ao final do processo, vê-se um homem plenamente constituído. Dotado de uma maturidade que não decorre de tempo, mas, contraditoriamente, daquela mesma capacidade de absorver e regurgitar o mundo que o cerca a partir das mais evidentes futilidades, por meio de um vocabulário tão insosso e chulo quanto seu próprio cotidiano... De forma tão reveladora.

É fino e frágil como um graveto, quase raquítico, julga-se covarde, mas jamais renuncia ao direito de comprar uma boa briga – seja um duelo retórico com seus professores ou uma troca de sopapos com seu companheiro de quarto, esmagadoramente mais forte do que ele. No mais das vezes, mostra-se um jovem arredio, difícil de domar, e tão seguro do que pensa que chega a cometer grosserias ao desdenhar de opiniões alheias. Mas também gosta de ser simpático, ainda que raramente. Nestes átimos, costuma tratar pessoas que mal conhece como se fossem amigos de longa data. Sua receptividade chega a impressionar.

Sofre com as angústias do mundo, pois as acumula e não encontra canais para poder devolvê-las ao local de onde vieram. Reflexões circulam em sua mente sem parar, em um ritmo tão encadeado quanto os cigarros que vai consumindo. Um atrás do outro, de forma ininterrupta. Aliás, são justamente os tragos e a fumaça expelida pela boca que funcionam como um escapamento de pensamentos.

Carregando uma inerente ciclotimia, oscila entre momentos em que tenta desesperadamente se encaixar ao contexto do qual deseja fazer parte e outros em que decide desistir desta inclusão e assumir de vez sua vontade de andar fora dos trilhos. E é quando finalmente consegue se desvencilhar do olhar comum, mesmo que por pouco tempo, que Holden Caulfield, o apanhador, se desinibe. E perturba com sua capacidade de ver o mundo com olhos de quem o descobre a cada instante.

2 comentários:

Anônimo disse...

lí esse livro há uns 10 anos já. na época me identifiquei. quem sabe leio novamente. abraço

Nogy disse...

muito bom!