quarta-feira, março 29, 2006

Insônia

Insônia, insônia...
o que seria do poeta sem ti?
Tantas vezes és amaldiçoada,
mas senão fosse tu
nesta folha
o nada.

Insônia cruel me responda:
onde está o sono agora?
Talvez no leito da pessoa errada...
Talvez junto a mulher amada...
Longe... Bem longe.
Tão longe que não sei onde.
Nem sei como achar,
nem quem procurar.

Seria lindo dizer que escrevo para o mundo cantar.
Mentira!
Escrevo para o sono alcançar.
Mas ele esta tão longe...
Tão alto...
Passou a lua
e quebrou a direita rumo a alguma galáxia distante.

Se ao lado do copo d’água
houvesse uma pílula de lexotan,
quem sabe adormecesse.
Mas não há.
Só há um maço de cigarros,
um punhado de lembranças
e um pouco de esperança.

Ah...
Estou acabado.
Descansar é preciso,
como eu preciso...
Mas o olho não quer fechar.
Então ao menos fecho o caderno,
jogo a caneta de lado
e deito

Fico aqui

olhando o teto, desperto,
cada vez mais perto,
prestes a me esmagar.

terça-feira, março 28, 2006

Curto # 36

para minha avó e para que eu sempre me lembre dela.


Duas caras tem Alice
no espelho ela lhe disse
(para uma que inexiste)
para que a outra inexistisse...

sexta-feira, março 24, 2006

Bienal do Livro

O calcanhar dói na longa caminhada por entre a feira no Anhembi. É o penúltimo dia da Bienal do Livro. As conversas e as expirações abafam o local. Passamos por um stand interessante, para o qual aponto meu nariz chamando a atenção de minha colega. Um homem de colarinho apresenta as obras aos transeuntes.
- Editora Ave-Maria.
- Jesus...
- É, literalmente.

terça-feira, março 21, 2006

Disparo
- Paro!
e penso
que a vida convida
ao desespero mais intenso.

Sufoca, estrangula e enforca,
cerca e cerceia,
censura qualquer tentativa,
todavia tento

Tento desesperandamente
no desespero mais intenso

Tento viver na alegria,
mas a vida é arredia
não sei se eu agüento.

terça-feira, março 14, 2006

Sobre Passos e Criaturas

Em meio a tudo que se sonha baixo, se fala baixo
Na ponta dos dedos se caminha com cuidado
O piso é frágil para os espíritos abusados
A loteria não premia mais os sorteados
Desdo dia em que a passos pequenos
Deu-se o completo silêncio
Naquele exato momento
Ele havia encontrado...
Livre agora está
Ou melhor,
Não está
Mais
Aqui
Quem falou
De bilhete algum
Quando o chão desaba
É só não ter mais medo agora
Vai durar apenas alguns instantes
Aqueles que sonham as vezes esquecem
De sair de dentro de suas próprias criaturas

sexta-feira, março 10, 2006

De mudança

Mudei-me. Dizem – e não são poucos, o que torna o dizer, além de chavão, uma função fática, estilo conversa de elevador ou, ainda, prato cheio para preconceituosos que interpretam a frase como uma prova de que o locutor não é lá um poço de cultura – “ano novo, vida nova”. Pois bem. Tenho novo endereço.

Fica em uma esquina qualquer na capital paulistana longe do horizonte praiano, próximo ao movimento constante de caminhões, gritarias, alguns pios e aviões. A passagem de pedestres é freqüente, mas não tem uma rotatividade definida. Ora sozinha, ora sozinhos. É um lar raso, humilde e adaptável. Moro num país descuidado, abençoado por nós e estranho por natureza. Minha casa é uma gota de lágrima.

segunda-feira, março 06, 2006

Que falta faz?

Que falta faz?

Que falta faz, a quem não traz na alma o amor,
um dia claro, um riso?

Como fosse embora a dor,
ao acusar a culpa em quem não o apraz,
para dissimular em suas orações,
suas eternas dúvidas e contradições.

Se quis um mundo melhor, para os seus e para você,
assistiu o seu mundo ruir...

Que falta faz, a quem não traz na alma a dor,
um dia claro, um riso?

Marcos

Como fosse embora o amor,
ao acusar a culpa em quem não o apraz,
para dissimular em suas dúvidas,
suas eternas culpas e contradições.

Se sou
o tipo certo de homem errado para entender,
entendi a falta, e assisti
o meu mundo...