Ela está sentada ali
A me fitar, a me medir
Mede um relógio, mede um anel
Meu rosto alcança
Pede uma dança
Não cansa de perguntar
Com as mãos, com a boca muda, com o olhar
Se tem moeda, se tem trocado
E eu fingindo
Estar ocupado
Levanta-se então bem depressa
E um roto que lhe cobre a testa
Balança na brisa e avisa da dança
Pros bolsos da minha camisa
Faço que esqueço, faço um protesto
Mão no volante, outra na testa
Enxugo as sobras de consequência
Isso é obra da consciência!
Apanho migalhas brilhantes
Do bolso direito
Do jeito errado
Estendo a mão
Sou quem convida
Quem anuncia
Mais uma gota
De sub-vida
À alma-ida
Assumo a dança, e eis que então
Se aproxima com a cobiça em cada mão
Nas unhas sujas, na carne suja, na boca suja:
-Valeu, patrão!
E com as pontas dos dedos
Bem devagar
Afaga meu retrovisor esquerdo
Entristece o olhar
Num segundo inclina a cabeça
Estende sua mão para dentro
Apanha uma nota depressa
O farol desamadureceu
Eu me vou, cercado de breu
E enquanto me afasto
Eu noto no asfalto
Que os brancos dos seus olhos
Refletem no óleo da rua
No alto, na lua
Nem lembram que um dia existi
E enquanto me afasto
Eu noto no asfalto
Que os brancos dos olhos
Refletem o álcool
E o salto pro alto
Pr´além do real
Tô passado com o que está por vir
E meio que morri
3 comentários:
Passei para desejar bom Fim de Semana
Um abraço.
olha eu aqui elogiando sua poesia social.
abraço!
Bacana este jogo entre a dança e o desesperança (de quem?).
Muito legal o texto!
Grato pelas boas vindas.
Um abraço!
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